Ano Santo deixa para a Arquidiocese legado pastoral e de evangelização

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Em entrevista ao Jornal O SÃO PAULO, Dom Odilo Pedro Scherer comentou que o jubileu deixou para a Arquidiocese de São Paulo um legado de evangelização e de ação pastoral.
Publicado em: 16/11/2016 - 12:45
Créditos: Daniel Gomes/ Jornal O SÃO PAULO
No dia 20, na Solenidade de Cristo Rei, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, participará no Vaticano da celebração conclusiva do Ano Santo extraordinário da Misericórdia, na qual o Papa Francisco fechará a Porta Santa da Basílica de São Pedro. Em âmbito arquidiocesano, o jubileu extraordinário foi concluído no domingo, 13, com missa presidida pelo Arcebispo na Catedral da Sé. 
Nesta entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, Dom Odilo comenta que a busca pela misericórdia de Deus e a prática das obras de misericórdia não devem cessar com o fim deste ano jubilar e afirma que “esperava um envolvimento maior nas ações do Ano Santo em nossas paróquias e organizações eclesiais”. 
 
Ainda segundo o Cardeal, na Arquidiocese este tempo especial para a Igreja deixou um legado de evangelização “cujo fruto só Deus conhece, pois esse legado tem seu lugar no coração e na consciência das pessoas” e um legado pastoral, “perceptível nas ações realizadas ou iniciadas, suscitadas pelo Ano Santo”, incluindo o Projeto Vida Nova, que será coordenado pela Missão Belém para acolher, ajudar e orientar as pessoas em situação de rua na restauração de suas vidas.
 

O SÃO PAULO – Na abertura do Ano Santo extraordinário da Misericórdia, em dezembro do ano passado, o senhor escreveu em artigo no O SÃO PAULO que este seria “um tempo de júbilo e de graças especiais para toda a humanidade”. Assim o foi?

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Esse foi o grande objetivo da proclamação do Jubileu da Misericórdia, pelo Papa Francisco. Para muitos, certamente foi assim, mesmo se isso nem sempre é perceptível e mensurável de maneira objetiva. As experiências do “mistério da misericórdia” são muito pessoais e, tantas vezes, também inefáveis. Mas é claro que a experiência interior da fé também tem suas expressões exteriores: a paz e a serenidade interior que se encontram na experiência pessoal da misericórdia de Deus também se refletem na interação com as outras pessoas e com as realidades circunstantes. 
 

Em muitos momentos, o Papa Francisco exortou os fiéis a abrirem-se à misericórdia de Deus e ao perdão ao próximo neste Ano Santo. Na avaliação do senhor, como esse pedido do Pontífice foi concretizado no agir pastoral da Igreja?

O Papa Francisco foi o grande animador de todo este Jubileu. Recebi a informação de muitos padres de São Paulo de que houve um significativo aumento da procura pela Confissão ao longo do ano. Sei também que foram oferecidas muitas ocasiões, pelos padres, para que as pessoas pudessem confessar; e houve muita pregação e anúncio sobre a misericórdia de Deus e sobre a necessidade de nos voltarmos a ela de coração humilde e contrito. E isso não deveria cessar com a conclusão do Ano Santo extraordinário da Misericórdia.
 

O que representa a criação de novos cardeais no encerramento deste Jubileu?

O Papa Francisco ao anunciar os nomes dos novos membros do Colégio Cardinalício observou que eles deverão ajudar a Igreja a testemunhar – “até os confins do mundo” – que a misericórdia de Deus é infinita. Isto já faz parte da missão ordinária da Igreja, mas é significativo que o Papa tenha destacado que o anúncio e o testemunho da misericórdia são finalidades da existência do Colégio Cardinalício, que deve ajudar o Pontífice na animação da Igreja inteira para o cumprimento dessa missão.
 

Qual a avaliação do senhor sobre a vivência do Ano Santo extraordinário da Misericórdia na Arquidiocese de São Paulo?

Antes deste Jubileu extraordinário, os exercícios de Ano Santo, como as peregrinações, a passagem pela “Porta Santa”, a busca da indulgência plenária e outras práticas tinham sempre como referência a cidade de Roma e, talvez Jerusalém, ou mais algum santuário no mundo. Desta vez, o Papa Francisco estabeleceu que esses exercícios fossem realizados, amplamente, nas dioceses do mundo inteiro, sob a responsabilidade dos bispos locais. Foi uma novidade muito boa, mas tive a impressão de que não houve a percepção suficiente dessa graça extraordinária. Para dizer a verdade, eu esperava um envolvimento maior nas ações do Ano Santo em nossas paróquias e organizações eclesiais. Acho que a grande maioria dos católicos não se deu conta das propostas e apelos do Ano Santo e não participou das suas iniciativas. Tudo tem seu aprendizado... Contudo, muitos participaram e foram numerosas as iniciativas propostas. Quem participou certamente aproveitou bem.
 

Que legados ficam para a Arquidiocese de São Paulo deste Ano Santo?

Fica um legado de evangelização, cujo fruto só Deus conhece, pois esse legado tem seu lugar no coração e na consciência das pessoas. Mas há um bom legado pastoral, perceptível nas ações realizadas ou iniciadas suscitadas pelo Ano Santo; a maior procura do sacramento da Reconciliação, a maior atenção pessoal à prática constante das obras de misericórdia corporais e espirituais. O apoio a obras sociais e iniciativas de solidariedade fraterna concreta também são parte desse legado. E o incentivo e apoio amplo da Arquidiocese ao Projeto Vida Nova, na Praça da Sé, a ser coordenado pela Missão Belém, será um legado expressivo do Ano Santo da Misericórdia na Arquidiocese. Essa obra é destinada a acolher, ajudar e orientar pessoas que vivem na rua, muitas vezes abandonadas, ou na dependência química, necessitadas de restauração de suas vidas. O Projeto Vida Nova deverá ser lugar permanente do testemunho concreto da misericórdia e para incentivar muitas pessoas na prática das obras de misericórdia. Será mais um testemunho de que “Deus habita esta Cidade”.
 

O próximo Ano Santo ordinário será em 2025. Já é possível intuir um caminho a ser trilhado pela Igreja até lá, tendo em vista que há pautas globais já definidas para esse período, como a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável?

A definição com tanta antecedência do tema de um Ano Santo não me parece uma preocupação da Igreja. Os Jubileus são momentos “extraordinários” na vida e na ação da Igreja. Creio que não devemos perder a noção da importância do “hoje” divino e do dia a dia na vida e na missão da Igreja e de cada pessoa. Todo ano, cada dia, cada hora são importantes e podem ser a “hora da graça" e da salvação para nós!