Um carro novo sem seguro

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18/04/2018 - 12:15

Acabamos de reviver a Semana Santa e novamente sofremos ao recordar os sofrimentos de Jesus, que abraçou voluntariamente a Morte numa cruz para salvarnos dos nossos pecados. 

Estamos agora em pleno tempo da Páscoa e comemoramos a vitória de Jesus sobre o pecado e a maldade humana. Mas corremos o risco de nos acostumarmos com a celebração do tempo pascal e não podemos perder de vista a sua verdadeira dimensão. 

Vamos imaginar um rapaz que tem um amigo, cujo pai acabou de comprar um carro novo. Estão os dois rapazes dentro do carro – que não pode sair da garagem por não ter ainda um seguro total – e acionam os dispositivos eletrônicos, ligam e desligam o som, examinam os requintes tecnológicos mais modernos. 

Momentos depois, o filho do dono do carro – vamos chamá-lo de Paulo – entra em sua casa e seu amigo sofre uma irresistível tentação de “dar uma experimentadinha na máquina”.

Aciona o motor de arranque, manobra com cuidado e sai entusiasmado com o carrão, sentindo logo um esguicho de adrenalina no sangue quando aperta com coragem o acelerador. Não é preciso muita imaginação para prever que ele não vai conseguir controlar o carro novo do pai do Paulo, e o destruirá numa curva, chocando-o contra a base de um viaduto. Graças ao acionamento automático do air- -bag, não aconteceu nada ao rapaz. Mas o carro sofreu perda total. E agora? O carro estava sem seguro! 

Para surpresa do amigo, chega o Paulo, esbaforido, dizendo ser o culpado por tudo: por mostrar todos os recursos do carro e – por descuido - largar a chave na sua mão: 

“Já expliquei tudo para o meu pai – diz - e pedi perdão pelo que aconteceu. Ele não só te perdoou, mas garantiu que vai comprar outro carro (este sim já chegará com o seguro feito) e o deixará à sua disposição para quando você quiser dar uma voltinha.” 

Isto não existe! Além de destruir o carro, é ele quem foi pedir perdão ao pai no lugar do amigo! 

Esse caso nos lembra o que aconteceu com o rapaz da Parábola do Filho Pródigo, que “torrou” irresponsavelmente a parte da herança que havia sido adiantada pelo pai. Quando retorna arrependido para casa, é recebido com abraços e beijos pelo pai, que organiza uma festa para celebrar o retorno do filho.

Isso não existe! 

A grandeza do amor de Deus por nós se manifesta da mesma forma: com um perdão total, sem condições. Foi exatamente isso que Jesus Cristo fez conosco, quando estilhaçamos a imagem divina em nossos corações: pelo pecado grave, destruímos irresponsavelmente um carro novo que não era nosso. Isso é o pecado, o único mal, o pior que nos pode acontecer: o pecado é destruir a imagem de Deus que temos em nosso coração. Sabemos que nem assim Deus nos rejeita: podemos ofendê-lo, tratá-lo com indiferença, cair na tentação voluntariamente, mas nunca deixamos de ser filhos. Deus nunca se cansa de nos perdoar. Deus se adianta e se aproxima de nós, manifestando o seu amor, mesmo que muitas vezes não estejamos à altura deste. 

Todos nós podemos começar uma vida nova nesta Páscoa, como os Apóstolos de Jesus, que também pecaram e depois se tornam fiéis e decididos, demonstrando uma fidelidade a toda prova, apoiados na vitória de Cristo Ressuscitado.
 

Dom Carlos Lema Garcia
Bispo Auxiliar e Vicario Episcopal
para a Educação e a Universidade