Prudência e precipitação

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11/08/2015 - 09:00

No dia em que aquele rapaz se preparava para fazer o seu primeiro voo como piloto, sua avó, preocupada, lhe pediu: "você vai me prometer que sempre voará devagar e bem baixinho”. Isso é o pior para um piloto: voar baixo e devagar é estar em risco constante de chocar- se com o solo.

Muitas vezes se identifica prudência com cautela e receio. Assim, prudente seria quem não arrisca nunca, não se lança. É certo que a precaução é um dos aspectos da prudência: ponderar os benefícios e as desvantagens de uma escolha antes de tomar uma decisão.

Mas a prudência é muito mais, pois tem o papel de reitora das demais virtudes cardeais: indica a melhor atitude em determinada circunstância. Encontramos uma referência à prudência na recomendação de Jesus: "sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas" (Mt 10,16). São João Crisóstomo explica que a serpente, quando atacada, defende-se escondendo a cabeça. Ou seja, prefere ser ferida em outra parte do corpo, desde que não perca a cabeça. Aqui está a prudência: manter a capacidade de discernir, de fazer um bom uso da inteligência.

Por isso, o exercício da prudência também é chamado de ponderação. Ponderar vem do latim "pondus”, que significa literalmente peso. É a experiência do pêndulo: lançado em movimento, oscila de um lado para o outro até chegar ao ponto de repouso. Para sermos prudentes, precisamos fazer o mesmo: ponderar, pesar os prós e os contras de uma decisão, ouvir as pessoas com diferentes pontos de vista, examinar as experiências do passado, verificar as circunstâncias do presente, pedir conselho aos entendidos na matéria e assim dispor dos elementos suficientes para decidir.

Contrárias à ponderação são as atitudes precipitadas, superficiais, as decisões motivadas pelos impulsos momentâneos dos sentimentos ou das paixões. Isso fica patente na Parábola das Dez Virgens (Mt 25, 1-13): cinco delas são néscias e cinco prudentes. Eram as damas de companhia que aguardavam os noivos na noite do casamento. Todas estariam bem vestidas, com o cabelo cuidado, as pulseiras e os brincos bem escolhidos etc. Porém, as néscias descuidaram da provisão do azeite para manterem suas lâmpadas acesas. Aqui incluo um comentário do Cardeal Bergoglio, pregando um retiro em 2006: "as virgens prudentes negaram compartilhar o seu azeite e isso, numa leitura rápida e inadvertida, fez com que fossem condenadas por serem mesquinhas e egoístas. Uma leitura mais profunda mostra-nos a grandeza da sua atitude, porque não repartiram o 'irrepartível' e não arriscavam o 'inarriscável': o encontro com o seu Senhor e o preço desse encontro”.

Aqui está a imprudência: dar importância a coisas acessórias e descuidar o azeite que permite o encontro com Deus. Dispersar-se em atividades em detrimento do essencial, como quem se empenha de tal maneira em seu trabalho que se ausenta da família, ou quem investe em seu descanso e bem-estar e deixa de frequentar a missa dominical.

O exercício da prudência é de especial importância em nossos dias: a vida moderna nos impõe um ritmo intenso, acelerado, e não estamos acostumados a esperar, a refletir, a ponderar. Mas se quisermos ser prudentes e não superficiais, precisamos aprender a pensar, a pedir conselho e a pensar bem antes de tomarmos as nossas decisões. Uma vez tomadas as decisões, a prudência recomenda colocá-las em prática sem adiamentos.

Fonte: Edição nº 3063 do Jornal O SÃO PAULO – página 05