Migração e meio ambiente

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06/08/2015 - 09:00

Muito já se falou e escreveu sobre a Carta Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, "sobre o cuidado da casa comum". Alguns a classificam de "evangelho da ecologia”, outros de "carta verde". Seja como for, convém focalizar mais de perto o aspecto destacado pelo título deste curto artigo. Ou seja, o que tem a ver devastação do meio ambiente com o fenômeno das migrações?

Comecemos por dar a palavra ao Pontífice: "Por exemplo"- diz o Santo Padre - "as mudanças de clima originam migrações de animais e vegetais que nem sempre podem adaptar-se e isso, por sua vez, afeta os recursos produtivos dos mais pobres, os quais também se veem obrigados a migrar com grande incerteza quanto ao futuro de suas vidas e de seus filhos" (LS, n° 25).

Entre as diversas faces da mobilidade humana, entra em cena um novo tipo de migrante: o "refugiado climático". Aquele que se vê forçado a deixar sua terra devido a secas prolongadas, inundações repentinas, desertificação do solo, e outros motivos. Nos últimos tempos assistimos a um agravamento das chamadas catástrofes "naturais”. Estas aspas significam que tais catástrofes se multiplicam e se agravam, não raro, por causa da ação humana sobre a natureza. O frenético afã de lucros e de capital desrespeita o ritmo lento e sábio da Mãe Terra.

E igual proporção dessa ação predatória, cresce o número de vítimas condenadas a uma fuga às vezes precipitada, e quase sempre privada dos meios mínimos para a sobrevivência. Infelizmente, como alerta o Papa, embora seja "trágico o aumento de migrantes fugindo da miséria piorada pela degradação ambiental”, esses fugitivos em massa "não são reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais e carregam o peso de suas vidas abandonadas, sem qualquer proteção normativa" (LS, idem).

Os órgãos responsáveis pela proteção dos refugiados, como a ACNUR, por exemplo, levam em conta a violência ideológica, política e/ou religiosa. Oferecem alguns mecanismos de ajuda aos milhares e milhões de pessoas que devem escapar de guerras e conflitos e que, devido a isso, não podem retornar ao país de origem, sob pena de perseguição e morte. São obrigados a buscar abrigo em outra nação.

O fato é que também os "refugiados climáticos" são vítimas de violência. Violência sobre o meio ambiente que, em suas consequências imprevistas, atinge em primeiro lugar "os mais pobres e abandonados”, como insiste o documento, os quais não possuem meios de defesa. Daí a necessidade de refúgio ... E de auxílio!

Fonte: Edição nº 3062 do Jornal O SÃO PAULO – página 05