Jubileu Extraordinário da Misericórdia

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06/11/2015 - 08:45

Em 11 de abril deste ano, o Papa Francisco lançou a bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia - Misericordiae Vultus. O Ano Jubilar, ou Ano da Misericórdia, terá início no dia 8 de dezembro de 2015, festa da Imaculada Conceição de Maria, e se prolongará até 20 de novembro de 2016. Evidentemente, não se trata de um período de exceção com o objetivo de sublinhar a dimensão misericordiosa de Deus e da Boa-Nova de Jesus Cristo. Tal misericórdia, na verdade, percorre todas as páginas bíblicas, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, bem como os escritos da Doutrina Social da Igreja.

Em lugar de uma exceção, a iniciativa desse Jubileu Extraordinário tenta chamar a atenção para uma característica que é absolutamente central de toda a Palavra de Deus e da atuação da Igreja ao longo dos séculos. A misericórdia, de fato, consiste no fio condutor ou fundamento de todo Cristianismo. Base não só da ação de Deus que caminha com seu povo pelas estradas do êxodo e da história, mas também do anúncio dessa presença divina por parte dos profetas de todos os tempos e de todos os lugares.

O conceito de misericórdia - de acordo com a insistência do Papa Francisco - privilegia os pobres e excluídos, os pecadores e marginalizados, os doentes e indefesos, os pequenos e últimos. São palavras que reavivam e reforçam a "opção preferencial pelos pobres", relembrando que Deus tem nome de Pai e coração de Mãe. Numa palavra, ama a todos os seres humanos como filhos e filhas, mas tem um cuidado especial para com aqueles cuja vida encontra-se mais ameaçada.

Entramos aqui no núcleo vivo e dinâmico da "questão social", a qual, conforme a própria denominação, serve de pano de fundo a todo o ensino social da Igreja, desde o seu documento inaugural, a Carta Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII (maio de 1891). Semelhante "ensino" ou "doutrina" tem por finalidade atualizar, em meio aos desafios concretos e mutáveis do contexto histórico, a dimensão sociopastoral da ação da Igreja.

Trata-se, em síntese, de manter acesa e ativa a chama do amor de Deus e da Igreja por todas as pessoas, indistintamente, mas com um olhar mais atento e solícito para com os "caídos" à beira da estrada e da vida, como nos recorda a parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). Entre essa multidão de "caídos”, convém ter em conta os milhões de migrantes, prófugos e refugiados, símbolo da condição humana, errantes pelas estradas do mundo em busca de um solo que possa ser chamado de pátria.

Fonte: Edição nº 3075 do Jornal O SÃO PAULO – página 05