Governo novo?

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27/06/2016 - 10:00

Instalado há pouco mais de um mês, o novo governo mostra sua cara. Revela, de um lado, a preocupação de quem o conduziu ao poder: recolocar a economia nos trilhos neoliberais; de outro lado, revela os mecanismos da conquista e manutenção do poder: as práticas fisiológicas do famoso "toma lá, dá cá” da política conservadora do País. Nada há de espantoso nisso, já que se trata de crônica anunciada.

Rapidamente, o governo interino foi chacoalhado por denúncias de corrupção e cabeças coroadas de seu partido tiveram prisão solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e são réus em processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Vindas a público, tais denúncias não foram saudadas pela orquestra de panelas que se manifestava em situações semelhantes até recentemente. Quando se demonstrou o plano para desativar a Lava Jato, nem a mídia se exaltou, nem as panelas soaram. Talvez porque já soubessem que a tão propalada luta contra a corrupção era apenas uma forma de derrubar o partido que não se conseguia derrotar nas urnas.

E aí aparece o verdadeiro interesse: recolocar a economia nos trilhos neoliberais, favorecendo os donos do País e recolocando em espécie de ilegalidade os programas sociais que tentavam, com algum sucesso, reduzir a distância que separa os ricos dos pobres no Brasil. Todo o discurso de que em pouco tempo o País vai voltar a crescer esconde a simples vontade de voltar a praticar economia que favorece os grandes.

Prova disso são as reformas econômicas que estão sendo preparadas e que vão, aos poucos, aparecendo para a mídia torná-las aceitáveis. Tais reformas se resumem a confiscar conquistas trabalhistas e penalizar a população com novas formas de impostos. Está se ensaiando, por exemplo, mais uma reforma na Previdência de maneira a alongar o tempo de trabalho antes da aposentadoria, além de encontrar maneiras de impedir o crescimento dos salários dos aposentados. E outras mais desse tipo virão por aí, em verdadeiro pacote de maldades, como a revisão do SUS. Ao lado disso, se justifica o aumento de impostos pelo crescimento de gastos do governo com pagamentos do funcionamento da máquina estatal. O que não se podia fazer com gastos sociais, é permitido com despesas de funcionamento, e se anuncia até mesmo a CPMF.

O novo governo não veio para acabar com a corrupção. A faz permanecer nas negociatas em troca de apoio político. Também não veio para acertar a economia do País, apenas devolvê-la a seus antigos senhores que, desde sempre, dominam e controlam a riqueza do País e não querem, de forma alguma, deixar que ela seja utilizada em benefício de toda a população brasileira.

Fonte: Edição 3107 do Jornal O SÃO PAULO – página 05