A Laudato Si’ nos faz pensar

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13/07/2015 - 16:00

O Papa Francisco publicou recentemente sua encíclica sobre o cuidado da casa comum. Para além das questões do meio ambiente, há toda a temática ampla da criação para ser pensada, que envolve as pessoas, as relações e as estruturas do mundo. Porque são muitos os problemas. Além da poluição do ar, dos rios e da água, existe a ameaça de extinção de tantas espécies animais e vegetais, incluindo o ser humano. Transformamos a criação em um grande deserto simplesmente para poder gerar mais riqueza. Diz o Papa que isso é fruto de uma má compreensão do lugar do ser humano na criação: ele não está acima da natureza para simplesmente usar de tudo como quiser, mas inserido na criação e, se não cuidar da natureza na qual vive, logo não haverá mais condições de existência da própria vida humana.

Existem algumas questões abordadas pela encíclica que são tremendamente importantes e, para além do cuidado com a natureza, se ligam à sua sempre lembrada opção pelos pobres. Uma dessas questões é a água. Francisco diz que o acesso à água é condição para a continuação da vida, já que ninguém pode continuar vivendo se não tem acesso à água. Isso faz parte do direito à vida das pessoas. Impedir alguém de ter acesso à água potável é como matá-lo. Por isso, a água não pode ser simplesmente vendida para quem puder pagar. Os pobres precisam ter acesso a ela, pois é uma questão de justiça. Os responsáveis por nossos governos bem que precisam ouvir o que diz Francisco.

Outra questão importante é a dívida que os países ricos têm para com os países pobres. As primeiras vítimas da devastação do meio ambiente são os pobres. São eles que são condenados a viver no deserto, nos lixões ou em áreas devastadas e quase que apodrecidas. Os países ricos destruíram praticamente toda a natureza que existia nos seus domínios para produzir industrialização. Agora eles querem que os países pobres mantenham suas florestas e sua natureza intactas porque sem isso o planeta entraria em colapso. Então, o Papa entra em cheio na questão: se mantêm os países pobres na pobreza, se impede seu desenvolvimento e se exige que preservem, com seus próprios recursos, a natureza. E ainda se cobra sua dívida externa, o que os mantêm em subdesenvolvimento. Não se pode concordar simplesmente com a lógica que se quer salvar os bancos, e não olhar o valor da vida humana. Os países ricos devem pagar a dívida ambiental que contraíram junto aos países pobres, investindo ali recursos para o desenvolvimento humano e a proteção ambiental. A lógica do descartável não tem lugar nas relações humanas e nem na preservação da natureza.

Curioso como as palavras do Papa não ecoam em nosso meio. Parece que existe medo de repercutir o que ele diz. Será porque desagradam alguns setores sociais e eclesiais? Talvez. Mas não se podem escamotear essas questões que se referem à Doutrina Social da Igreja.

Fonte: Edição nº 3059 do Jornal O SÃO PAULO – página 05