A identidade do padre muda nos séculos?

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20/08/2015 - 08:45

O sacerdote é sempre o maior dom que Deus pode fazer à humanidade e à sua Igreja. Nestes dias, estava pensando em algo que, para alguns, pode ser uma bobagem nostálgica e social, mas para mim é importante e me coloca numa crise boa, de purificação. A identidade do sacerdote ao longo dos séculos muda, ou é sempre a mesma? Creio que não seja necessário recorrer a psicólogos e biblistas, mas cada padre na intimidade do seu coração pode tentar dar uma resposta. Eu dou a minha simples, e me parece que seja verdadeira e que se fundamenta no primeiro e único Sacerdote, Jesus de Nazaré. A identidade do sacerdote não muda, é sempre a mesma. O modelo não muda, é sempre o mesmo: Jesus. Não pode existir outro modelo para o padre.

Jesus se coloca na nossa frente com as características que todos os sacerdotes devem ter. Não só na parábola do Bom Pastor, mas todo o Evangelho nos mostra os traços
de Jesus preocupado com o bem do povo, e um péssimo sacerdote que tem necessidade de uma conversão profunda, radical. A conversão pastoral de que nos fala o Documento de Aparecida é, antes de tudo, necessária para os sacerdotes. O sacerdote que não ama sentar-se horas e horas no confessionário ou num banco da Igreja, esperando os pecadores e dando-lhes todo o tempo necessário para que mostrem suas feridas e
sejam curados pelo doce óleo da misericórdia, é um péssimo pastor.

E o sacerdote que sobe ao altar com pressa, rezando para que a celebração termine rápido, e logo, e que não prepara as suas homilias, como alimento substancioso para ele e para o povo, não se pode chamar de Bom Pastor. É maravilhoso ler as homilias de Santo Agostinho sobre os pastores, ou de outros padres da Igreja. Vivemos num momento que pensamos realizar tudo via internet ou Skype. É bobagem. O sacerdote será sempre aquele que, à imitação de Jesus, senta-se à beira do poço da Samaria e espera, quem sabe horas e horas, para que a samaritana venha buscar a água. É aquele que vai pelas estradas poeirentas das cidades e das roças para ver se em alguma árvore há um Zaqueu esperando ser chamado a descer da sua árvore, para iniciar uma vida nova. O sacerdote é sempre o mesmo, a imagem do coração de Deus, que deve revestir-se mais do que de cultura, do vestido do amor, da ternura e da bondade. A nossa identidade de padre é sempre a mesma: configurar-nos a Jesus, Bom Pastor.

Fonte: Edição nº 3064 do Jornal O SÃO PAULO – página 05