Síntese Final do Sínodo Da Família (II) - Dom Odilo Pedro Scherer

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Publicado em: 31/10/2014 - 09:45
Créditos: Edição nº 3025 do Jornal O SÃO PAULO – página 15

A segunda parte da Síntese Final (Relatio Synodi) da 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos é um convite a acolher o “Evangelho da família”. O tema da Assembleia era “os desafios pastorais da família”, e foram levantados muitos.

No entanto, não basta saber que são tantos e quais são. Os melhores diagnósticos, por si só, ainda não curam as doenças… É preciso dar uma palavra de orientação e indicar o caminho para as famílias enfrentarem esses desafios e também para a ajuda que a Igreja pode e deve dar às famílias e aos casais. E o que fez o Sínodo?

Antes de tudo, convidou a olhar para Jesus Cristo. A Igreja fala a partir do horizonte da sua fé, com base no Evangelho: neste caso, do “Evangelho da família”: o que Deus pensa da família? Qual é o significado do Matrimônio e da família na história da salvação, na vida de Cristo, na pedagogia divina, que conduz o homem à realização do fim último de sua existência?

A Igreja deve fidelidade a Deus e ao Evangelho de Cristo e, por isso, os caminhos e soluções que ela indicar para os atuais desafios pastorais da família e do casamento não poderão estar em contradição com esse pressuposto. Mas isso não lhe impede de “perscrutar as Escrituras” e também o ensinamento dela própria; e o Papa Francisco nos encoraja a deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo e a colocar-nos de forma aberta e fiel diante da Palavra de Deus. O que diria Jesus diante desses desafios? Como agiria?

Quando os doutores da lei lhe apresentaram o caso do divórcio, achavam que tinham a interpretação segura das Escrituras: “Moisés nos ensinou assim…” Jesus, no entanto, lhes mostra que isso não era suficiente: “no início não foi assim… mas foi por causa da dureza dos vossos corações que Moisés permitiu mandar embora a mulher e casar-se com outra” (cf Mc 10, 1-10). Será que, sobre casamento e família, não falam mais alto os critérios dos movimentos da cultura circunstante do que a Palavra de Deus? Esses podem ter coisas boas; outras, porém, precisam ser iluminadas e transformadas com a luz do Evangelho.

Por outro lado, o ensinamento da Igreja, “mãe e mestra”, é rico de sabedoria e traduz experiência da fé vivida por muitas gerações. É preciso conhecer mais e melhor o tesouro dos ensinamentos do Magistério sobre Matrimônio e família. Corremos o risco de nos deixarmos envolver tanto pelos “problemas” e desafios, que esquecemos o que há de belo, grandioso e atraente no casamento e na família. Recordo aqui um provérbio: na escuridão, vale mais acender uma lâmpada do que xingar as trevas…

Infelizmente, os maus exemplos e os estímulos negativos sobre o casamento e família são postos bem mais em evidência do que as coisas belas e animadoras. E essas ainda existem em grande quantidade e qualidade! No coração dos jovens, continua o desejo de casar e formar família; muitas vezes, estão apreensivos e inseguros em relação à proposta cristã do casamento. É preciso falar-lhes mais e que vejam e ouçam testemunhos de casais que vivem bem o casamento; que saibam que é uma vocação e um projeto de vida abençoado por Deus.

Nessa segunda parte da Síntese Final, tratou-se da indissolubilidade, como um dos elementos constitutivos do Matrimônio. Mas também foi lembrado o significado alto e, ao mesmo tempo, tão humano, do amor esponsal fiel “para sempre”: o amor humano verdadeiro requer isso!

A união matrimonial é algo tão profundo e envolve as pessoas de tal maneira,que não pode ficar entregue à precariedade de relações sem um compromisso recíproco total. Além disso, a aliança nupcial dos esposos é imagem do amor salvador e fiel de Deus pela humanidade; supõe um dinamismo de relações que se constroem ao longo de uma existência inteira.

A Igreja tem consciência de que nem todos os casais conseguem viver plenamente as qualidades do Matrimônio. Contudo, os encoraja a viverem de forma generosa tudo aquilo que já conseguem viver; a vida matrimonial e familiar também está sujeita à lei do crescimento e do amadurecimento. A graça e a misericórdia de Deus não faltarão para quem tem fé e boa vontade.

Cardeal Odilo Pedro Sherer

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