Sínodo em outubro: vocação e missão da família

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Cardeal fala sobre o Sínodo
Publicado em: 09/06/2015 - 13:30
Créditos: Edição nº 3054 do Jornal O SÃO PAULO – página 23

Nos dias 25 e 26 de maio, aconteceu, no Vaticano, a reunião do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos, em preparação à 14ª Assembleia Geral Ordinária, que com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, será realizada de 4 a 25 de outubro. O Conselho presidido pelo Papa Francisco conta com a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo.

No encontro de dois dias, o Conselho examinou detalhadamente o projeto do instrumento de trabalho da próxima Assembleia, enriquecido com as contribuições enviadas pelas conferências episcopais e por outros organismos, além de descritivos de diversas realidades eclesiais e de fiéis, chegadas à Secretaria Geral.

De acordo com a Sala de Imprensa da Santa Sé, a ampla e profunda análise do texto ofereceu propostas e contribuições para a sua integração e melhoria. O texto assim revisado e partilhado pelos membros do Conselho foi confiado à Secretaria Geral para a redação final, a tradução em diversas línguas e a publicação, que deverá ocorrer em poucas semanas.

O “caminho sinodal” proposto pelo Papa começou em outubro de 2013 com a convocação de uma Assembleia Extraordinária, que foi precedida por um documento preparatório com um questionário que suscitou uma vasta resposta por parte de católicos do mundo inteiro. A Assembleia Extraordinária em outubro de 2014 teve como tema “Os desafios pastorais da família no contexto da Evangelização” e resultou na “Relatio Synodi”, relatório final da Assembleia.

Em entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, o Cardeal Scherer explica que a Assembleia de 2014 representou um grande “ver”, em relação aos desafios atuais da família. Já a Assembleia deste ano estará mais voltada para o “julgar” e o “agir”, sobre a vocação e a missão da família. Abaixo segue a íntegra da entrevista.

O SÃO PAULO - O senhor participou recentemente da reunião do Conselho do Sínodo dos Bispos. Quem esteve nessa reunião e qual foi o objetivo?|

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Sim, nos dias 25 e 26 de maio, participei da reunião do Conselho da Secretaria do Sínodo dos Bispos, em Roma, juntamente com os outros membros do Conselho, num total de 15 cardeais e bispos de todo o mundo. Participaram também os consultores e alguns peritos. E o Papa Francisco esteve presente em todas reuniões. O objetivo da reunião foi a preparação do “Instrumentum laboris” (Instrumento de trabalho) da próxima assembleia ordinária do Sínodo, em outubro deste ano, que terá como tema a “vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

Como é elaborado esse instrumento de trabalho?

Antes de tudo, foi levado em conta o tema da próxima assembleia, que já havia sido definido no ano passado pelo Papa Francisco: “vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Parte importante do instrumento de trabalho será a “Re1atio Synodi", que é o relatório final da assembleia extraordinária do Sínodo sobre a Família, de 2014; foram levadas em conta igualmente as muitas respostas ao questionário enviado às conferências episcopais e dioceses do mundo inteiro. Tudo isso, naturalmente, precisou ser trabalhado para organizar a nova proposta de trabalho para o Sínodo de outubro. A assembleia extraordinária do ano passado representou um grande “ver”, em relação aos desafios atuais da família no contexto da evangelização; a próxima assembleia estará mais voltada para o “julgar” e o “agir” sobre a vocação e a missão da família.

Como as Contribuições das dioceses e conferenciais episcopais são valorizadas?

As contribuições das dioceses, conferencias episcopais e de outros organismos eclesiais foram muito importantes, pois são o fruto de uma participação mais ampla da Igreja na reflexão sobre os temas da família. Elas foram levadas na devida conta na elaboração do Instrumentum laboris.

Quais serão as principais questões que a próxima assembleia do Sínodo deverá enfrentar?

A próxima Assembleia do Sínodo vai, certamente, partir de novo da situação atual da família, sobretudo daqueles desafios já levantados no ano passado e que se referem às mudanças culturais e antropológicas, ao contexto socioeconômico e também eclesial e religioso, que incidem sobre a família e desafiam a evangelização, mas depois deve tratar de maneira mais especial da vocação da família no plano de Deus e do seu desígnio amoroso de salvação da humanidade. Nesse sentido, deverão ser tratadas as questões propriamente eclesiais do Matrimônio e da família. Enfim, a reflexão se concentrará sobre a missão da família na Igreja e na sociedade atual e sobre aquilo que a Igreja precisa fazer para ajudar a família a realizar, da melhor forma, sua vocação e missão.

Os ”temas quentes"que apareceram na última assembleia do Sínodo serão novamente tratados, como a situação dos casais em segunda união e a participação destes na Igreja?

Os temas relativos à família são muito vastos e não seria bom que toda atenção fosse concentrada apenas sobre algum ponto específico, de maior interesse no contexto cultural contemporâneo. A reflexão do Sínodo não deixará de levar em consideração os problemas atuais da família e o fará no horizonte da vocação e missão da família, no plano de Deus e no serviço à pessoa, à comunidade, à sociedade e à Igreja.

Quando o Instrumentum laboris será publicado?

A previsão é que seja publicado até julho próximo, de maneira que as reflexões sobre o tema continuem na Igreja e para que os membros da Assembleia, eleitos pelas conferências episcopais ou escolhidos pelo Papa, possam preparar-se bem para participar da Assembleia, em outubro.

Quem participará da 14ª assembleia ordinária do Sínodo?

Serão os bispos eleitos para isso pelas conferências episcopais e confirmados pelo Papa; outros membros serão escolhidos pelo Papa, conforme prevê o Regulamento do Sínodo. Entre os convidados, haverá também sacerdotes, religiosos, leigos e representantes de outras Igrejas cristãs, além de um bom número de peritos, que ajudarão nos trabalhos de Secretaria. O Papa preside o Sínodo, mas deixará a condução dos trabalhos a quatro presidentes-delegados: Cardeal Vingt-Trois, de Paris; Cardeal Tagle, de Manila; Cardeal Raymundo Damasceno Assis, de Aparecida; e o Cardeal Napier, de Durban, África do Sul. O relator será o Cardeal Peter Erdõ, de Budapeste, e o secretário especial dessa assembleia do Sínodo será o arcebispo Dom Bruno Forte, de Chíeti-Vasto, na Itália.

Rafael Alberto
colaborou Fernando Geronazzo