Racionamento de água em São Paulo pode ser inevitável

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<p>Será mesmo que &nbsp;a escassez de água é o único problema&nbsp;</p>
Publicado em: 17/02/2014 - 13:30
Créditos: Jornal O São Paulo

O volume armazenado de águas nas represas do Sistema Cantareira já é inferior 20% da capacidade. Apesar de o governador Geraldo Alckmin e a diretora-presidente da Sabesp, Dilma Pena, terem afirmado recentemente que não haverá racionamento de água, o decréscimo no nível das represas deve tomar a medida inevitável.

“Próximo dos 10% do nível dos reservatórios, já fica inviável bombear água. No Sistema Cantareira, se a falta de chuvas continuar, vai ter que haver algum tipo de restrição de consumo. Se passarmos o mês de fevereiro sem chuvas, dificilmente escaparemos de limitações no fornecimento”, analisou, ao O SÃO PAULO, Edison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, que se dedica a estudos sobre a coleta de tratamento de esgoto no País.

A aposta da Sabesp para que haja reeducação do consumo de água na Grande São Paulo é uma política de incentivo econômico, lançada na última semana. Os clientes residências, comerciais e industriais que reduzirem em 20% o consumo médio terão desconto de 30% sobre o valor final da conta. Segundo Dilma Pena, ainda não é possível saber o impacto da ação, “mas a Sabesp conta com a colaboração da população, que é sempre muito solícita”, afirmou à reportagem.

Na avaliação de Vicente Pimenta, da Pastoral da Ecologia da Arquidiocese, política de incentivo da Sabesp tem viés “publicitário” e “ajuda a manter as causas estruturais do problema longe da discussão popular. É uma campanha irresponsável porque a hidratação é uma necessidade de todo ser vivo. Fazer uma campanha para reduzir o consumo de água durante as ondas de calor pode resultar na fragilização da saúde e em um custo maior para o cidadão”.

Escassez de chuvas, o único problema?

Segundo a Sabesp, nunca choveu tão pouco na Região Metropolitana de São Paulo. Em dezembro, foram 62 milímetros de precipitação, a média histórica é de 226 milímetros. Em janeiro, foram 87,8 milímetros. Porém, desde 2011, o nível dos reservatórios do Sistema Cantareira apresenta decréscimo, apesar dos diferentes índices de pluviometria.

Para Edison Carlos, a baixa no nível dos reservatórios não se deve apenas à falta de chuvas, mas também às perdas nas redes de distribuição “que em São Paulo estão entre 25% e 30%, é uma perda alta” e ao consumo de água não regularizado. “Há mais de 3 milhões de pessoas na Grande São Paulo morando em áreas irregulares e, muitas vezes, esse consumo não é medido”, comentou.

Segundo Dilma Pena, índice de perda de água nas redes de distribuição está em 24,7%, e a meta é alcançar o índice de 18% até o final da década, especialmente por meio do Programa de Redução de Perdas de Água, que prevê investimentos de R$ 1,9 bilhão, até 2016, em ações preventivas e de reparos.

Para Vicente Pimenta, o nível crítico das reservas de água no Sistema Cantareira já era previsível. “No verão, o consumo de água aumenta bastante, mas o sistema de coleta, tratamento e abastecimento de água opera no limite mesmo nas estações de temperatura mais moderada. O que essa situação crítica expõe não é apenas o descaso e a falta de investimentos por parte do estado, mas principalmente o esgotamento da capacidade que a própria natureza tem para manter constante o ciclo da água” opinou.