Os desafios atuais da Família. O que fazer? - Dom Odilo Pedro Scherer

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<p>Dom Odilo analisa um geral sobre a terceira assembléia geral do Sínodo dos Bispos</p>
Publicado em: 01/10/2014 - 10:15
Créditos: Edição nº 3021 do Jornal O SÃO PAULO – página 03

Está para ser aberta a 3ª assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema: “Os desafios pastorais da família no contexto atual da evangelização”. Sendo extraordinária, essa assembleia terá como principais participantes os cerca de 120 presidentes das conferências episcopais de todo o mundo. Mas também contará com um bom número de outros membros, convidados pelo Papa Francisco. Ao todo, serão cerca de 250 pessoas.

O Papa, como presidente dessa assembleia eclesial, ficará em silêncio a maior parte do tempo… Ele convocou a reunião para ouvir a Igreja, que falará através dos seus representantes; depois da assembleia sinodal, ele dará sua palavra a toda a Igreja, tendo em conta aquilo que ouviu e de acordo com seu carisma de “pastor universal e mestre da fé”, que confirma os irmãos no caminho da fé e da moral cristã.

Os trabalhos serão conduzidos por um trio de cardeais, que serão presidentes “delegados”. Entre eles, também, Dom Raymundo, presidente da  CNBB. Outros dois participantes terão papel relevante: o Relator, que apresentará o tema e as questões principais submetidas à reflexão dos participantes, já no início dos trabalhos; e o Secretário Especial, que recolherá a síntese das reflexões, organizando-as de maneira que possam ser votadas.

Serão duas semanas de trabalhos, de 5 a 19 de outubro, de manhã e à tarde. Na primeira semana, o tempo quase todo será de intervenções individuais dos participantes, que terão cinco minutos para falar sobre algum aspecto do tema. Na segunda semana, haverá trabalhos de grupos, para a elaboração de sínteses e de propostas que, antes do encerramento, serão votadas. O trabalho é intenso, mas interessante.

Ao saberem de minha participação na assembleia sinodal, muitas pessoas me perguntam sobre os frutos deste Sínodo: o que esperar, diante dos desafios pastorais da família? A Igreja modificará sua doutrina em relação ao casamento e à família? É bem compreensível que se espere por algum fruto, depois de tanto trabalho! Mas qual poderá ser esse fruto?

Não queiramos colher o fruto antes de amadurecer… O Papa Francisco pede muita oração, para que o Espírito Santo ilumine os trabalhos do Sínodo e as decisões da Igreja em relação à família. Que Deus manifeste sua vontade e a Igreja lhe seja dócil, tomando as decisões certas. Mesmo assim, arrisco fazer alguns prognósticos sobre eventuais frutos do Sínodo.

O primeiro fruto vem de um claro sinal: a Igreja de Cristo não abandona a família, mesmo em meio às desorientações da cultura contemporânea; ela está ao seu lado, continua a defender e valorizar essa instituição humana, que tem muito a ver com o desígnio de Deus; continua a estimular e encorajar os seus membros na vivência dos valores da família e do casamento. E também continua a dar sua orientação sobre a família à comunidade humana.

Haverá um esforço de “compreensão misericordiosa” diante das numerosas situações de “fracasso” do Matrimônio; a pastoral jurídica, mediante os tribunais eclesiásticos e outros serviços de assistência canônica aos casais, deverá crescer muito nos próximos anos. É possível que sejam revistas normas processuais sobre questões de nulidade matrimonial, inclusive para agilizar e tornar mais acessíveis esses serviços.

Certamente, o Sínodo vai apontar para uma renovada vivência da mística matrimonial e familiar a partir do Evangelho; vai apontar para a necessidade da boa preparação dos jovens ao Matrimônio cristão, da Pastoral Familiar vigorosa no contexto da vivência da fé e da prática da vida cristã; vai valorizar a família como “célula básica” da sociedade e da Igreja e sua importância para a pessoa e a comunidade humana, em geral.

A Igreja vai abençoar o divórcio neste Sínodo? Vai homologar o amor livre e as uniões esporádicas e descompromissadas? Vai “convalidar” as uniões de pessoas do mesmo sexo, como se fossem verdadeiros casamentos? Eu não apostaria nessa direção. Ninguém espere que a Igreja vai assinar uma espécie de “rendição” e de renúncia às suas convicções diante das pressões que sofre de vários lados…

Por outro lado, tenho a certeza de que o Sínodo apontará caminhos para que a Igreja continue a ser portadora da Boa-Nova a todos, mesmo aos que vivem as situações humanas, matrimoniais e familiares mais complicadas e contraditórias; a Igreja procurará ser coerente com a atitude de Jesus, que convidava a todos a receberem a Boa-Nova da salvação, a se converterem aos caminhos de Deus… Ao mesmo tempo, ele também ia atrás da ovelha perdida, veio para os doentes, mais do que para os sãos e robustos; para os pecadores, mais que para os justus…

Ninguém pode ser excluído, a priori, da Boa-Nova da salvação, da qual a Igreja é porta-voz. Esta é a questão de fundo: diante das questões difíceis da família no contexto atual, como evangelizar? Como continuar a fazer como Jesus fez?

Cardeal Odilo Pedro Scherer