Confira toda a programação da Festa da Conversão de São Paulo Apóstolo, padroeiro da Arquidiocese de São Paulo

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FESTA DA CONVERSÃO DE SÃO PAULO E "UM PRESENTE DE ANIVERSÁRIO PARA SÃO PAULO" PELOS SEUS 468 ANOS!
Publicado em: 20/01/2022 - 12:15
Créditos: Redação

Festa da Conversão de São Paulo Apóstolo, padroeiro da Arquidiocese de São Paulo.
Confira as celebrações na Catedral da Sé que comemoram os 468 anos da cidade de São Paulo.

Leia abaixo o artigo do Cardeal Odilo P. Scherer:

"UM PRESENTE DE ANIVERSÁRIO PARA SÃO PAULO" 

No dia 25 de janeiro é comemorada a festa da cidade de São Paulo e o aniversário oficial de sua fundação. Naquele longínquo 25 de janeiro de 1554, não era possível imaginar o que viria a ser aquele pequeno aglomerado de indígenas e uns poucos portugueses neste Planalto de Piratininga. No Pátio do Colégio, que hoje recorda o berço da cidade, iniciava-se a missão dos Padres Jesuítas entre os indígenas do Planalto. Padre Manuel da Nóbrega e o irmão José de Anchieta (São José de Anchieta) estavam entre eles. As boas relações com os indígenas permitiram que a missão prosperasse. Além da ação propriamente religiosa e da ação missionária para “ganhar os povos para Cristo”, os missionários desenvolviam um projeto de encontro de culturas, em que o respeito pela dignidade e a saúde das pessoas, o esforço para a superação de conflitos e o estabelecimento da paz faziam parte. A educação, testemunhada pela inauguração do pequeno colégio para os filhos dos indígenas, era parte integrante desse projeto. Os jovens aprendiam a ler e escrever, fazer teatro, cultivar a terra, edificar casas e a conviver em harmonia. Pode-se dizer, em conceitos atuais, que o projeto evangelizador caminhava junto com um projeto de “desenvolvimento humano integral”. É claro que ainda não se usava esse conceito naquele tempo. Não se pode, pois, aceitar quem afirma hoje, de maneira simplista e errônea, que os missionários vieram a São Paulo e ao resto do Brasil com um projeto de dominação e exploração dos povos originários. Certas narrativas, com a presunção de serem “históricas”, precisariam ser revistas. Esta reflexão, na comemoração do aniversário da cidade, levanta a pergunta sobre qual seria o projeto que temos hoje em relação a São Paulo, infinitamente maior e mais complexa que a aldeiazinha de 1554? A pergunta pode ser dirigida à Igreja e suas organizações e expressões, mas também às autoridades públicas e às múltiplas organizações da sociedade paulistana. Para onde orientamos a vida da cidade? Ela possui uma economia pujante, que oferece oportunidades quase inesgotáveis a quem nela quer se inserir e trabalhar. Há diversidade étnica e riqueza cultural enormes, um capital científico e tecnológico imenso, possibilidades educacionais e de cuidados à saúde como em poucas cidades do Brasil, poderosa comunicação e formação da opinião pública, uma enorme diversidade de expressões religiosas. São Paulo é uma cidade rica em muitos aspectos. Que presente lhe podemos ainda desejar e oferecer em seu aniversário? O que São Paulo precisa ainda? Nossos olhares sobre a cidade, que se enchem de admiração e, talvez, também de ufanismo, correm o risco de não se dar conta das imensas carências desta mesma cidade. Algumas vezes, essas carências são camufladas e quase tornadas invisíveis. Quem vê e fala da população que vive nos cortiços e nas ruas e praças do centro urbano, sem teto, sem trabalho e sem esperança? O que nossa cidade pensa para essa população? Quem vê e fala das imensas periferias pobres da cidade, sem casas decentes ou morando em casebres pendurados nas encostas de morros, prontas a virem abaixo na próxima chuva forte? Quem se preocupa com a enorme população que sobrevive sem um trabalho digno e estável, sem serviços básicos adequados, sem ruas que mereçam esse nome? Quem vai resolver a precariedade de serviços públicos oferecidos a essas periferias, que cresceram de modo espontâneo e desordenado, e assim vão ficando há décadas? Quem vai resolver o problema fundiário de grande parte da população das periferias, que vive de maneira precária em espaços sem titulação de posse? Quem se importa que o crime organizado tome conta de áreas onde o poder público está ausente? Quando essas carências da cidade mais rica do Brasil serão enfrentadas seriamente pela administração urbana e por todos aqueles que têm a possibilidade de ajudar a diminuir os sofrimentos de tantos paulistanos, oferecendo-lhes mais segurança e esperança para o futuro? São Paulo, cidade poderosa, não pode se acovardar diante das imensas lacunas e débitos sociais em relação à sua população. O aniversário da cidade poderia ser ocasião para dar início a um projeto de médio e longo prazo para melhorar a cidade para todos. Mais que bolo de aniversário, a cidade precisa de um grande e variado mutirão de esforços para pensar as grandes questões pendentes desta querida e desvairada Pauliceia.

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo

Texto do publicado no Jornal O São Paulo – Edição nº 3379 – de 19 à 15/01/2022 – página 16

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