Cardeal Odilo Pedro Scherer - Síntese Final do Sínodo da Família (III)

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Publicado em: 06/11/2014 - 18:00
Créditos: Edição nº 3026 do Jornal O SÃO PAULO – página 12-13

A terceira parte da Síntese Final (Relatio Synodi) da 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos trata das perspectivas pastorais que se abrem, ou que decorrem como uma necessidade diante dos muitos e graves desafios vividos hoje pela família e o Matrimônio. Que fazer?

O trabalho dos grupos, na segunda semana da Assembleia, aprimorou e ampliou as eventuais “saídas” pastorais para as situações de crise. É preciso dizer que, desde a abertura da Assembleia estava muito claro que a indissolubilidade do Matrimônio não estava em discussão. Disse-o explicitamente o Papa Francisco nas palavras de abertura da Assembleia, no dia 6 de outubro.

Portanto, mais que tudo, tratava-se da busca de caminhos pastorais para ir ao encontro das situações de angústia e sofrimento de muitas pessoas, que desejam viver a sua fé numa situação de casamento fracassado, mas reconstruído numa segunda união; ou para devolver ao casamento e à família novo apreço entre os jovens, para que se preparem com coragem e esperança para a vida matrimonial; ou para devolver às famílias uma verdadeira mística cristã, num tempo em que os lares e o convívio familiar são invadidos por avalanches de “valores” incompatíveis com a vida cristã...

Após falar uma semana inteira dos desafios e problemas da família e do casamento, foi fácil perceber que é preciso retomar, com urgência, o anúncio do “Evangelho da família”: Deus tem um desígnio bom sobre o casamento e a família e reserva uma bênção toda especial para quem os quer viver com seriedade: como se reza na liturgia do casamento, esta bênção nem mesmo depois do pecado original foi abolida.

Talvez a avalanche de mensagens depreciativas e de testemunhos pouco edificantes em relação ao casamento e à família abalaram até mesmo as convicções dos cristãos a esse respeito. Anunciar o Evangelho da família significa apresentar com coragem e perseverança os valores da família e do casamento e as graças que Deus reserva para tanto.

Entre as indicações pastorais, que fazem parte do Evangelho da família, está a recuperação da relação da família cristã com a Igreja: cada família é uma “Igreja doméstica”, confiada aos cuidados dos esposos e pais. Já no rito do Matrimônio, alude-se a essa missão, assumida pelos nubentes com um solene “sim” à pergunta que lhes é feita: estais dispostos a assumir com amor os filhos que Deus lhes confiar e a educá-los na lei de Cristo e da Igreja?

É preocupante a constatação do distanciamento generalizado entre Igreja e família: esta já não se sente mais protagonista da vida da Igreja mediante à transmissão da fé aos filhos e sua iniciação à vida cristã. Será preciso rever profundamente a “pastoral familiar”, para que ela seja uma ajuda mais eficaz à vivência cristã e eclesial dos casais e das famílias. Também nesse caso, falou-se em “conversão missionária” da Igreja e de suas organizações, como já aconteceu na Conferência de Aparecida.

A renovação da Pastoral Familiar requer uma reflexão séria também por parte dos presbíteros e agentes de pastoral, lembrados de que as famílias bem formadas e assistidas pastoralmente serão multiplicadoras das ações de evangelização. Cada família católica deveria ser uma das pequenas comunidades de vida cristã e de missão na grande comunidade paroquial.

Na Assembleia Extraordinária do Sínodo tratou-se muito da necessidade de uma boa preparação para o casamento, que já deveria começar remotamente, e não apenas quando já chegou o momento de celebrar as núpcias. Essa preparação deveria ser encarada como um verdadeiro catecumenato de iniciação à vida cristã matrimonial e familiar, em que houvesse a possibilidade de uma boa experiência da vida na fé e da vida na comunidade eclesial.

Muitos casamentos já começam mal e poderiam até ser considerados nulos perante a Igreja, uma vez que lhes faltam os elementos essenciais para a realização de um casamento válido. Isso pode ser evitado, em boa parte, na medida em que houver uma preparação adequada para os jovens que vão casar.

Cardeal Odilo Pedro Sherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo

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