Advento: ‘Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria’

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Publicado em: 11/12/2014 - 16:00
Créditos: Edição nº 3031 a do Jornal O SÃO PAULO – página 05

O Pe. Jaime Luiz Coelho, cura da Catedral de Ribeirão Preto (SP), quando foi nomeado bispo da recém-criada Diocese de Maringá (PR), pelo Papa Pio XII, em 3 de dezembro de 1956, comprou um mapa, na esperança de localizar Maringá. Mas ele não encontrou essa cidade, pois no mapa de então ela ainda não estava sinalizada. Hoje, passados nem 60 anos, quem compraria um mapa? Adquiriria certamente um GPS ou faria uma busca pelo Google Maps ou, quem sabe, pelo Waze. Quanta mudança! Todo esforço – o de ontem e o de hoje – têm grande importância para que as pessoas possam encontrar um caminho, traçar uma rota, encurtar distâncias, estabelecer relações.

Eis que estamos novamente no tempo de encontrar caminhos: é tempo do Advento. Lembremo-nos, pois, que o próprio Senhor é simultaneamente “trajeto, rota” e “meta de chegada”: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O tempo do Advento recorda-nos que aquele mesmo Jesus que um dia veio, nascido da Virgem Maria, pela ação do Espírito Santo – “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14) – virá um dia em sua glória ; assim é que ele irá se manifestar: glorioso, “para julgar os vivos e os mortos”.

Quando veio pela primeira vez, o Caminho assumiu o caminho de nossa humanidade para chegar até nós. Esse é o caminho que Ele nos indica para que cada um de nós – e a Igreja inteira - possamos chegar até ele. É o caminho da descida, da simplicidade, da pobreza. Trilhando esse caminho, poderemos encontrar o Senhor e fazer a experiência indicada pelo Papa Francisco: “Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (Evangelii Gaudium, nº 1). Sim, quem encontra o Senhor reconhece que seu coração e sua vida inteira ficam inundados pela alegria do Evangelho. “Quando se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento”.

Mas poderíamos nos perguntar – talvez como desculpa! – qual é esse caminho que nos conduz a Jesus Cristo? Reconheçamos: é serviço às pessoas que sofrem. Assim, lemos na Evangelii Gaudium: “no irmão, está o prolongamento permanente da Encarnação para cada um de nós: ‘sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizeste’ (Mt 25,40)” (179). Quem são esses irmãos nos “quais somos chamados a reconhecer Cristo sofredor”? Eles são “os mais frágeis da terra”, entre os quais se encontram “os sem abrigo, os toxico-dependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados, os migrantes” (210).

Para ir ao encontro do Senhor que vem, seguindo o caminho chamado “irmão sofredor”, não bastam mapas, GPSs, Google, Waze, enfeites e compras natalinas; precisamos mudar a nossa “cabeça”, a nossa mentalidade (Rm 12,1-2), precisamos nos converter cada dia, e vencer a tentação de “ser cristãos, mantendo uma prudente distancia das chagas do Senhor”. Cristo quer que “toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros… que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano”, que aceitemos “entrar em contato com a vida concreta dos outros”.

Assim agindo, conheceremos “a força da ternura” e nossa vida irá se complicar “sempre maravilhosamente” e viveremos “a intensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo” (270)!

Feliz Advento! Feliz Natal!

Dom Edmar Peron
Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém