27 de abril: um dia para os santos papas

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<p>Semelhantes e diferentes os papas e, a partir do dia 27 de abril de 2014, santos João 23 e João Paulo 2º, serão canonizados no Vaticano</p>
Publicado em: 25/04/2014 - 14:15
Créditos: Jornal O São Paulo

A canonização de dois papas na história da Igreja Católica não é algo de todo inédito. O próprio papa João Paulo 2º, no ano 2000 beatificou os papas João 23 e Pio 9º, que representam momentos eclesiais distintos. A Igreja parece manter a conciliação dos opostos, e Francisco mostra-se fiel a essa tradição.

Semelhantes e diferentes os papas e, a partir do dia 27 de abril de 2014, santos João 23 e João Paulo 2º, serão canonizados no Vaticano pelo atual Pontífice. Os dois Joãos, homens da Páscoa, testemunharam a Palavra de Deus no seguimento de Jesus.

João 23 pela paz e pelo diálogo entre a Igreja e o mundo
João 23, eleito para ser “um papa de transição”, surpreendeu com a convocação do Concílio Vaticano 2º, que “abriu as janelas” da Igreja e foi um acontecimento marcado profundamente pelo desejo de mudança e diálogo com o mundo. Tais transformações podem ser verificadas em afirmações como a de que Igreja é Povo de Deus e há um sacerdócio comum dos fiéis.

Aspecto essencial do Concilio foi recolocação da Palavra de Deus como centro de toda a reflexão eclesial e teológica e a abertura ao mundo moderno. A Igreja tem seu lugar próprio no mundo moderno. A Igreja tem seu lugar próprio no mundo, aberta à humanidade e ao humanismo, como ensina a Gaudim et Spes. Outros temas importantes do Concilio são a reforma litúrgica, o ecumenismo, os meios de comunicação e os Direitos Humanos.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Pe. Oscar Beozzo, historiador, comentou a Pacem in Terris, encíclica escrita por João 23 antes do Concílio. “Ele tomou a iniciativa de escrever diretamente a Kennedy e a Kruscev, e a encíclica nasceu diretamente da crise dos mísseis ou crise de Cuba, com a instalação pelos soviéticos em Cuba de mísseis com ogivas nucleares, em outubro de 1962”.

O “Papa bom”, como era chamado, conseguiu que sua voz fosse ouvida e que, superada a crise, fosse instalado o telefone vermelho com ligação direta e constante entre a Casa Branca e o Kremlin, para evitar qualquer má interpretação das intenções recíprocas ou eventual passo em falso que desencadeasse guerra termonuclear.

“Ele alertava que tão ou mais importante que a redução das armas era o desarmamento dos espíritos, a criação de um clima de confiança mútua e a construção das bases para um frutuoso diálogo”, explicou Beozzo, ainda sobre a Pacem in Terris.

Pouco antes da abertura do Concílio, João 23 foi alertado por seus médicos, do prognóstico sombrio de que, por causa do câncer intestinal que fora detectado, teria apenas alguns meses mais de vida.

Nesse horizonte de sua morte pessoal próxima e anunciada, pode-se dizer que o discurso de abertura do Vaticano 2º a Gaudet Mater Ecclesia (Alegra-se a Mãe Igreja) foi o testamento espiritual de João 23 para a Igreja, enquanto a Oacem in Terris foi seu testamento para a humanidade toda.

João Paulo 2º e a abertura às demais religiões

O papa João Paulo 2º, que permaneceu quase 27 anos à frente da Igreja Católica, teve o grande mérito do diálogo com o Judaísmo, pois foi o primeiro Papa da história a visitar uma sinagoga de Roma. Foi também o primeiro a ir até o Muro das Lamentações e a promover o diálogo com outras religiões, como os dois encontros em Assis e o convite à oração em comum.

“Outra característica é a internacionalização da Igreja Católica”, apontou o teólogo Vito Mancuso, em entrevista à uma TV italiana. O Papa teve grande abertura a outras religiões e merece destaque a maneira que lidou com questões éticas, sobretudo em relação à bioética. João Paulo 2º também lutou durante todo o seu papado contra os comunistas e criticou alguns excessos do capitalismo.

No Brasil, o Papa esteve em três ocasiões. A primeira delas, em 1980, foi marcada pela expectativa dos brasileiros em receber pela primeira vez um papa no país e pela beatificação do jesuíta espanhol José de Anchieta, fundador da cidade de São Paulo. Na ocasião, ele participou do 10º Congresso Eucarístico Nacional, realizado entre 30 de junho a 12 de julho 1980, em fortaleza, no Ceará.

A segunda aconteceu em 1991, quando o Pontífice aproveitou para visitar Irmã Dulce, em Salvador, que estava com a saúde debilitada. A religiosa ficou conhecida por se dedicar às crianças carentes da Bahia.

A última passagem de João Paulo 2º pelo Brasil foi em 1997, quando rezou uma missa campal no Aterro do Flamengo, para 2 milhões de pessoas, e participou do 2º Encontro Mundial do Papa com as Famílias. Ele ficou por quatro dias na cidade. Em seus discursos, condenou o divórcio, o aborto e os métodos contraceptivos.

Em 1982, o Papa João Paulo 2º fez uma visita não oficial ao País ao realizar um rápido discurso durante a escala de seu voo no Rio de Janeiro. Ele tinha quanto destino a Argentina. Durante as três visitas no Brasil, tanto o Vaticano quanto os Correios editaram selos comemorativos para registrar a passagem do Pontífice.