Paz na terra e glória no céu!

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11/01/2017 - 13:30

Não é fácil perdoar diante das consequências da guerra e dos conflitos sociais, pois isso envolve não somente os indivíduos, mas os cidadãos e a sociedade dividida pela violência dos embates.

A violência das guerras deixa sempre uma herança pesada de dor, que somente pode ser aliviada quando os contendores são capazes de enfrentar os abismos da desumanidade e da desolação com uma atitude purificada pelo arrependimento. De uma parte, o peso doloroso do passado não pode ser esquecido e varrido para debaixo do tapete da história e das consciências. Por outra, sem reconciliação com o passado, que leve a uma justa reparação, e sem o perdão reciprocamente oferecido e recebido, a cultura da paz não lança raízes nos corações. A verdadeira paz só é possível por meio do perdão e da reconciliação. É preciso paz nos tratados. É necessária a paz da confiança. É sumamente necessária a paz nos corações.

O perdão não anula as exigências da justiça, tampouco bloqueia o caminho que leva à verdade. Justiça e verdade representam os requisitos concretos da reconciliação. Nesse sentido, são oportunas as iniciativas que tendem a instituir organismos judiciários internacionais para apurar a verdade sobre crimes perpetrados durante os conflitos armados e para julgar os comportamentos delituosos ativos ou omissos. Tais iniciativas são importantes não somente para estabelecer a justa reparação, mas principalmente para restabelecer o recíproco acolhimento entre as pessoas e os povos divididos pelos conflitos.

A paz é um bem indivisível. Ela não é uma mercadoria que possa ser feita em pedacinhos, para que cada um tenha a sua paz privada: ou a paz é possuída por todos ou não é possuída por ninguém! Impor a segurança em detrimento de grupos sociais desprotegidos não constrói a paz. Ela só é possível quando buscamos o bem do outro. Nesse sentido, a paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que as necessidades e as exigências alheias são sentidas como próprias. É uma convivência na qual cada um faz o outro participar dos próprios bens. A paz nunca se separa dos deveres da justiça e se alimenta do sacrifício de si próprio, pela clemência, pela misericórdia e pela caridade.

O que é indispensável para que haja paz? Você! Sem você não haverá paz. Você é imprescindível para a paz. Além de você: eu! Sem envolvimento pessoal não há paz! Sem compromisso pessoal, a paz é somente uma tarefa imposta aos outros. Mas, uma paz como tarefa imposta aos outros não é paz! A paz só pode ser imposta com a própria paz.

A Igreja Católica luta pela paz com a oração, que não é fuga do compromisso social. É o modo como nós abrimos o coração para uma profunda relação com Deus e para o encontro com o próximo sob o signo do respeito, da confiança, da compreensão, da estima e do amor. A oração infunde coragem e dá apoio a todos os verdadeiros amigos da paz. Para que haja a paz, é indispensável Deus. Ele é a fonte e a meta da paz. Ele mesmo é a nossa paz. Deus, eu e você! Paz na terra e glória nos céus!


Dom Julio Endi Akamine
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa;
nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3133 -11 a 17 de janeiro