“Deus é comunidade de amor” - Solenidade da Santíssima Trindade.

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01/06/2015 - 09:00

Hoje, solenidade da Santíssima Trindade, meditamos o mistério de Deus. Somos convidados a um “exercício de mistagogia”. Mistagogia significa aprender a arte da contemplação para mergulhar no mistério divino. Não significa, contudo, explicação ou solução do mistério; algo impossível a nós, seres humanos. O mistério de Deus é um horizonte sem limites. Esta verdade levou santo Agostinho a dizer: “Deus é uma realidade tão inesgotável que quando encontrado ainda falta tudo para encontrá-lo”. O mesmo entimento de santo Agostinho experimentou o grande profeta Isaías: “Deus escondido realmente sois” (Is 45, 15).

O que sabemos do mistério de Deus foi a nós plenamente revelado ‘por’ e ‘em’ Jesus Cristo. Por isso, professamos que Deus é “Pai, Filho e Espírito Santo”. Essa é a nossa fé. Porém, quando avançamos na compreensão desta verdade e acrescentamos que Deus é uma natureza e três pessoas, estamos explicando a fé, dentro dos limites da razão. Estamos fazendo “teologia”, cujas explicações visam fortalecer e robustecer a fé.

As fórmulas trinitárias, elaboradas pelo magistério eclesiástico, após longos séculos de reflexão, e procura por uma linguagem adequada, visam avançar a inteligência do mistério, ou seja, torná-lo mais compreensível à razão humana. A doutrina cristã ensina-nos que Deus é Uno e Trino; que em Deus há igualdade, diferença e unidade.

Igualdade. O poder divino é igual para os três. Ninguém é maior ou menor, mais poderoso ou menos poderoso, mais santo ou menos santo. Não podemos projetar em Deus as desigualdades que existem entre as gerações humanas: falando em pai e filho, sempre entendemos que o Pai é mais velho, maior e mais forte; só pouco a pouco o filho chega à altura do pai e até o ultrapassa, porque o pai, na velhice, vai se abatendo e se tornando menor que o filho, que está no vigor da idade. Esta desigualdade não existe em Deus: há a relação de origem entre Pai e Filho, mas a própria relação é eterna. Não há uma evolução temporal; não há crescimento ou decrepitude. Pai, Filho e Espírito Santo são iguais em tudo.

Diferença. Cada pessoa tem seu lugar. A primeira pessoa em relação à segunda é “Pai”, isto é, origem, fonte. A segunda pessoa em relação à primeira é “Filho”, isto é, originada, gerada. O “Espírito Santo” é fruto do amor que há entre o “Pai” e o “Filho”. Estas relações não podem ser invertidas. Cada pessoa tem seu lugar inconfundível. A criação é atribuída ao Pai, a redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo.

Unidade. Há perfeita intimidade entre eles, de modo que cada pessoa mora na outra. Um vive no outro. Intimidade significa justamente sentir-se acolhido, amado por alguém; é uma experiência de salvação, de felicidade. Três pessoas, mas um só Deus.

Enfim, o mistério trinitário ensina-nos que em Deus existem diferenças que não produzem exclusão, que não se opõem, pelo contrário, criam comunhão. Em Deus, a distinção é fator de comunhão. Neste sentido, a Santíssima Trindade é referência para nossa vida pessoal e comunitária. Amém!