Leituras: Gn 17, 3-9; 14 Sl: 104, 4-9 / Evangelho: Jo 8, 51-59
Ante nossos olhos, no horizonte bem próximo, já contemplamos o início da Semana Santa. A longa caminhada quaresmal, trilhada nesses mais de quarenta dias, foi tempo favorável para uma profunda revisão de vida e propósito de conversão. O incessante apelo à conversão, no entanto, deve retinir continuamente, de maneira estridente, nos nossos corações. Devemos sempre mais estar atentos à mensagem do evangelho e à aliança que celebramos com Deus.
Nesse sentido, a liturgia desta quinta-feira da quinta semana da quaresma exorta-nos a reconhecer a aliança que Deus fez com a humanidade. Aliança iniciada em Abraão, vivida pela sua descendência e plenificada em Jesus Cristo. Aliança que não é apenas cultual, mas é também, compromisso de fraternidade.
Na primeira leitura, extraída do Livro do Gêneses, revisitamos o cenário da aliança estabelecida entre Deus e Abraão. Do alto dos seus setenta e cinco anos, Abraão é desafiado a testemunhar uma fiducial confiança no Senhor. Ele deve deixar tudo e seguir aquilo que Deus lhe indicar. O Senhor, por seu turno, lhe fará o pai de uma multidão (v.5). Ele o estabelecerá numa “terra Prometida” e manterá uma aliança eterna com seus descendentes (v, 9). Abraão, de fato, tornou-se o pai de uma miríade de homens e mulheres sobre a face da terra. Soa, ainda hoje, e de forma intrépida, o compromisso dos filhos de Abraão de serem fieis à aliança feita com o Senhor (v.9). Cabe a cada homem e mulher que se coloca no seguimento do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, ser fiel a essa aliança. Uma aliança que é cultual, mas também é concreta e que exige uma fidelidade comprometida com a defesa dos projetos de um Deus justo e compassivo.
O salmo poeticamente recorda-nos o tema da aliança e nos exorta a buscar a face de Deus incessantemente. No evangelho, redigido pela comunidade de João, outra vez Jesus revela-se aos seus interlocutores, os judeus. Tal manifestação, como presume-se, acarreta querelas e contentas. Neste texto, Jesus apresenta-se como aquele que possui a palavra de vida eterna (v.51), pois veio de Deus (v,54) e é maior que Abraão (v,55). Jesus é maior que aquele que celebrou a primeira aliança e este mesmo alegra-se em ver o dia do senhor (v.57). Jesus, portanto, é aquele que dá pleno sentido à aliança selada entre Deus e a humanidade. Esta aliança nova e eterna é celebrada no sangue do Cordeiro para salvação do mundo.
Assim, as leituras da liturgia desta quinta-feira nos ensinam que Deus selou uma aliança com a humanidade. Em Jesus, ela atingiu pleno sentido. De igual modo, se com Abraão Deus exigiu fidelidade de sua descendência, em Jesus a mesma exigência é requerida dos filhos e filhas do Senhor. Tal fidelidade não é, sob hipótese alguma, apenas um compromisso cultual. Trata-se de uma opção concreta que promove a vida e garante a terra. Transveste-se hoje, facilmente, de compromisso com a justiça, com a fraternidade e com os sofredores.
Pe. Reuberson Ferreira,mSC é mestrando em teologia - PUC/SP. Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo. (Escreve todas as quintas-feiras neste espaço)