Um novo jeito de falar do Reino - Raul de Amorim

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29/01/2016 - 00:15

Mc. 4, 26-34

O povo ficava impressionado com o jeito de Jesus anunciar a Boa-Nova de Deus. “E se maravilhavam com seus ensinamentos, porque os ensinava como quem tem autoridade, e não como os doutores da Lei" (Mc. 1,22). Jesus gostava de ensinar por meio de parábolas.

Sendo um bom observador da realidade do povo, ele tinha uma grande capacidade de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida. Isso supõe duas coisas: estar por dentro das coisas da vida do povo e estar por dentro das coisas de Deus. Uma grande dica para todos nós!

Hoje vamos refletir sobre duas parábolas da semente. Nelas Jesus chama nossa atenção para certos detalhes que nem sempre percebemos. Por exemplo, como é que uma semente tão pequena pode produzir uma planta tão grande? Como é que uma semente pode crescer debaixo da terra? Como é que a raiz sabe que deve crescer para baixo, e a folha sabe que deve crescer para cima? E as duas nunca erram! Como é que tudo isso acontece?

1. Marcos 4,26-29: A semente que germina e cresce sozinha. O lavrador que planta a semente conhece o processo: semente, fiozinho verde, folha, espiga, grão. Ele não mete a foice antes do tempo. Sabe esperar. Mas ele não sabe como esta semente tão pequena e frágil cresce debaixo da terra, desde o nada até o fruto. Assim é o Reino de Deus: tem processo, tem etapas e prazos, tem nascimento, vai acontecendo até produzir o seu fruto no tempo marcado. Mas ninguém sabe explicar a sua força misteriosa.

2. Marcos 4,30-32: O grão de mostarda que cresce e se torna grande. A semente é pequena, mas ela cresce e, no fim, os passarinhos vêm fazer seus ninhos nos ramos. Assim é o Reino de Deus. Assim é a comunidade: começou pequena com duas ou quatro pessoas (Mc. 1,16-20). Mas cresceu e chegou a doze pessoas (Mc. 3,13-19), a setenta e duas pessoas (Lc. 10,1), a três mil pessoas (At. 2,41). Cresce até hoje. Como Jesus, a comunidade acolhe os pequenos e oferece um lugar a quem não têm lugar na sociedade.

A parábola deixa uma pergunta no ar que vai ter resposta mais adiante no evangelho: Quem são os passarinhos que fazem seus ninhos nos galhos da árvore que nasceu da semente? O texto sugere que se trata dos pagãos que entraram na comunidade dos primeiros cristãos e nela encontrou um ninho, um acolhimento amigo.

3. Marcos 4,33-34: Esclarecimento a respeito do motivo de falar em parábolas. Jesus contava muitas parábolas. Tudo tirado da vida do povo! Assim ajudava o pessoal a descobrir as coisas de Deus. Tornava o quotidiano transparente. Pois o extraordinário de Deus se esconde nas coisas comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas, recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais e apelos de Deus. A compreensão mais profunda dos mistérios do Reino só é possível a quem se torna discípulo de Jesus.