Salvos pela Sabedoria - Cônego Celso Pedro da Silva

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04/09/2016 - 00:15

Lc 14,25-33

A Sabedoria nos diz que sem ela não podemos conhecer a vontade de Deus e nem mesmo imaginar o que o Senhor quer, porque nossos pensamentos são tímidos e nossas reflexões são incertas. De fato, nosso corpo, como uma tenda de barro, pesa sobre a nossa alma e oprime a mente que pensa. Se com dificuldade conhecemos as coisas deste mundo, como poderemos investigar o que há no céu? Em nós tudo é limitado, até mesmo o que nos torna superiores aos seres inanimados e aos seres animados irracionais. Nós raciocinamos, mas raciocinamos a partir do que os nossos sentidos captam da realidade material que nos envolve. Nossa mente se povoa de imagens que se transformam em ideias. Tudo isso é um grande trabalho porque não vemos imediatamente as coisas como elas são. Não somos por natureza intuitivos. Precisamos raciocinar a partir do que vemos e vemos de forma limitada. Não chegamos rapidamente a um consenso. Quanta canseira para sermos racionais e não sermos capazes nem de conhecer nem de imaginar o que Deus é e o que Deus quer. Mas a Sabedoria, que se aproxima de nós, retifica os nossos caminhos e nos ensina o que é agradável ao Senhor. Os filósofos a definem como o perfeito conhecimento de todas as coisas. Os cristãos a identificam com o próprio Senhor Jesus.

Santo Agostinho dizia que, se não podemos conhecer a Deus nem imaginá-lo, podemos ao menos saboreá-lo. É a Sabedoria que nos permite sentir o gosto do que Deus é. Sentindo o gosto, gostamos; gostando, queremos; querendo, buscamos; buscando, nos comprometemos. Calculamos então o que temos diante de nós, organizamos os instrumentos e iniciamos a obra de luta e construção. Já não é difícil desapegar-se de tudo, tomar a cruz e tornar-se discípulo. Não será difícil abraçar a cruz que contém todos os instrumentos da construção. Isso se fará com gosto e com amor, pois não há trabalho no que se faz com amor.

“Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração Sabedoria”, pedimos com o Salmista. Certamente, com essa Sabedoria, que é o dom do Espírito, Filêmon, na segunda leitura de hoje, pode acolher, abraçar e libertar seu antigo escravo Onésimo, que Paulo evangelizou e batizou na prisão. Tanto um como outro, Onésimo e Filêmon, deram um passo sério no seguimento de Jesus quando abraçaram a fé e foram batizados. Calcularam o que tinham pela frente. Sabendo que seriam acompanhados pela Sabedoria, decidiram e entraram no caminho de Jesus. Assim fizemos todos nós no dia do nosso batismo quando entramos na Igreja. Entramos para valer e entramos para ficar. Pela Sabedoria fomos salvos.