Quem não quer trabalhar, também não deve comer - Cônego Celso Pedro da Silva

A A
13/11/2016 - 00:15

Lc 21, 5-19
33º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Em nossa profissão de fé dizemos que Jesus há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos, verdade que lembramos e celebramos no fim e no começo do ano litúrgico. Terminamos o ano litúrgico e o ano civil olhando para o fim dos tempos e iniciamos o ano litúrgico no Advento olhando esperançosos para o Senhor que vem julgar os vivos e os mortos. Quando ele subiu ao céu na sua Ascensão os anjos disseram aos apóstolos: “Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

Já na antiguidade o profeta Malaquias fala do “dia que virá”, no qual os soberbos e os ímpios serão punidos. O profeta chega a dizer que eles simplesmente desaparecerão, enquanto para os que temem o nome do Senhor nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas. O evangelista São Lucas também descreve o fim dos tempos que será marcado por guerras e revoluções, por catástrofes naturais, por perseguições aos cristãos.

Aos discípulos que admiravam as obras de reforma do Templo levadas adiante pelo rei Herodes, Jesus lhes diz que não ficará pedra sobre pedra, tudo será destruído. Não se trata aqui do fim do mundo e sim da destruição da Cidade Santa e do Templo, o que aconteceu no ano 70 da nossa era, quando os soldados romanos derrubaram os muros da cidade, incendiaram o Templo e mataram grande parte da população. Os evangelistas tomam as imagens da destruição de Jerusalém para com elas descrever o fim dos tempos, o dia final, que ninguém ainda viu, mas que se pode imaginar. Quem viu Jerusalém sendo destruída podia dizer que foi o fim do mundo. E assim imaginamos que será o fim do mundo. A experiência que temos de perseguições, de cataclismos e de guerras, fornece abundante material de imagens com as quais descrevemos o fim dos tempos que ainda não vimos.

O fim dos tempos ainda não chegou e acreditamos que chegará um dia. Enquanto esse dia não vem, o que fazemos? Os tessalonicenses foram para a praça e, de braços cruzados, esperavam o dia da volta do Senhor. São Paulo lhes escreve que enquanto o Senhor não vem, nós trabalhamos. Trabalhamos para manter a própria vida e a da família, e trabalhamos para o anúncio do Evangelho. O fim dos tempos é descrito com palavras humanas provenientes da nossa experiência. Como será de fato, saberá quem estiver vivo naquele dia. Estrelas que caem e sol que se escurece são figuras apocalípticas da imaginação. O que não é imagem e sim realidade é o trabalho que desenvolvemos para comer honestamente o pão de cada dia.