Partilha: segredo para matar a fome no mundo - Raul de Amorim

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28/04/2017 - 00:15

Jo 6,1-15

Na leitura de hoje encontramos o texto da multiplicação dos pães. O povo ia atrás de Jesus, porque via os sinais que ele fazia com os doentes. Era um povo faminto e doente, como um rebanho sem pastor. O povo enxergava em Jesus o grande líder capaz de resolver os seus problemas.

Jo. 6,1-4: A situação

“Estava próxima a Páscoa, festa dos judeus” Na antiga páscoa, aquela do êxodo do Egito, o povo atravessou o Mar Vermelho. Aqui na nova páscoa, Jesus atravessa o Mar da Galiléia. Uma grande multidão seguia Moisés no primeiro êxodo. Uma grande multidão segue Jesus. No primeiro êxodo, Moisés subiu a montanha. Jesus, o novo Moisés, também sobe à montanha. O povo seguia a Jesus porque tinha visto os sinais que ele fazia para os doentes.

A Páscoa que Jesus vai celebrar com seus discípulos e com a multidão carente mostra-o como novo Moisés, mas comprometido com a vida e a liberdade de seu povo.

Jo. 6,5-7: Jesus e Filipe

Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão que ia a seu encontro Vendo a multidão faminta, Jesus pergunta a Filipe. “Onde vamos comprar pão para esse povo poder comer”? Estavam longe da cidade, estava ficando tarde e o povo estava com fome.

O evangelho diz que Jesus fez a pergunta a Filipe para testá-lo, porque sabia o que fazer. Como entender isso? É que, conforme a Escritura, Moisés tinha conseguido alimento para o povo faminto. Jesus, o novo Moisés, terá que fazer a mesma coisa.

Mas Filipe, em vez de olhar a situação à luz da Bíblia, olha a situação com os olhos do sistema econômico e responde: “Nem o dinheiro de duzentos dias de trabalho daria para comprar pão e cada um receber um pouco” Filipe constata o problema e reconhece sua total incapacidade para resolvê-lo. Faz o lamento, mas não apresenta solução.

Jo. 6,8-9: André e o menino. “Um dos discípulos de Jesus, André, irmão de Simão Pedro, disse: “Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos...

André em vez de lamentar-se, busca solução. Ele encontra um garoto com cinco pães e dois peixes, disposto a partilhá-los. André percebe que neste gesto do menino está a solução. Por isso levou o garoto até Jesus.

Jo. 6, 10-11: A multiplicação Jesus pede para o povo se acomodar na grama. Em seguida multiplica a oferta do menino. O texto diz: “Jesus tomou os pães agradeceu e distribuiu aos que estavam sentados. Fez a mesma coisa com os pequenos peixes. E todos comeram o quanto queriam”.

Com esta frase, escrita no ano 100 depois de Cristo, João faz memória o gesto da Ceia que era celebrada nas comunidades (1Cor.11,23-24) . A Ceia Eucarística quando celebrada à luz do ensinamento de Jesus levará as pessoas à partilha como levou o menino a entregar seu sustento para ser partilhado. A lição da multiplicação é solidariedade e partilha.

Jo. 6,12-13: A sobra de doze cestos “Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhamos pedaços que sobraram, para que nada se desperdice”. Eles recolheram...

A segurança da subsistência não está no muito que poucos possuem e retêm para si, mas no pouco de cada um que é repartido entre todos. Jesus manda recolher a sobra do pão. Recolheram 12 cestos. O numero 12 lembra a totalidade do povo com suas 12 tribos.

Nunca se produziu tanto alimento no mundo como hoje e, no entanto, a fome continua fatal porque a ganância e o egoísmo imperam no dia a dia. Onde existe partilha, não existe fome.

Jo. 6,14-15: Querem fazê-lo rei. Quando as pessoas viram o sinal que Jesus tinha feito disseram: “Este é realmente o Profeta que vem ao mundo!”...

A fartura do momento leva ao reconhecimento de Jesus como o Profeta esperado. A intuição do povo é correta. Jesus é o novo Moisés, o Messias aquele que estavam esperando Dt.18,15-19) Mas esse discernimento tinha sido desviado pela ideologia da época que “queria um grande rei que fosse forte e dominador”. Por isso o povo, vendo aquele sinal realizado proclama Jesus como Messias e querem fazê-lo rei! Jesus, percebendo o que ia acontecer, refugia-se sozinho na montanha. Ele não aceita esta maneira de ser messias.

No Brasil, é grande a produção de alimentos, inclusive para exportação. Mas a fome em muitos lugares é presença constante. A leitura de hoje me questiona: diante do problema da fome no mundo nós agimos como Filipe, como André ou como o menino no evangelho?

Diante do problema da fome no mundo nós agimos como Filipe, como André ou como o menino do evangelho?