Parábola do Administrador Corrupto - Raul de Amorim

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04/11/2016 - 00:15

Lc. 16,1-8

Um primeiro sentimento em relação a esta leitura é de certa indignação. Afinal, ao nos contar a parábola, Jesus parece elogiar o comportamento de uma pessoa corrupta e desonesta. Por isso esta parábola nos incomoda. Vamos meditar sobre isso.

Lc. 16,1-2: Jesus dizia aos discípulos: Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de lhe esbanjar os bens. Mandou chamá-lo e lhe disse: O que é isso que ouço dizer de você? Preste contas de sua administração, pois você não pode mais ser administrador.

As terras são de um proprietário que mora distante. Uma situação muito comum na Palestina daquela época. O patrão confiava na ética do empregado. O administrador ganhava pelo que produzia: quanto mais os bens se multiplicavam, tanto maior era o salário.

Na parábola contada por Jesus a administração destas terras foi confiada a um capataz que desvia os bens e o dinheiro do patrão em proveito próprio. Este comportamento foi denunciado ao patrão que resolve despedir o administrador.

Jesus parte da realidade que ele vê! Corrupção sempre houve. Hoje mais do que nunca. Principalmente aqui no Brasil, onde parece que só vence na vida quem é desonesto. Os corruptos são mais criativos que os honestos! Todo mundo quer ganhar dinheiro sem fazer força.

Lc. 16,3-4: Então o administrador pensou: “Meu senhor vai me tirar a administração. O que vou fazer? Trabalhar na terra? Não tenho força. Mendigar? Tenho vergonha. Já sei o que vou fazer.

Ele começa a refletir como continuar tendo seu nível de vida sem ter que se esforçar. Neste seu raciocínio ele conta as duas maneiras legítimas de sobreviver: trabalhar ou mendigar. Ele rejeita as duas: uma por preguiça e outra por vergonha. Busca então outra estratégia.

Lc. 16 5-7: Chamou então um por um dos devedores de seu senhor, e disse ao primeiro: Quanto você deve ao meu senhor? Ele respondeu: Cem barris de óleo. Disse-lhe então: Pegue sua conta sente-se e escreva cinquenta...

Por um caminho mais que discutível, o administrador descobre que sua sobrevivência está no cuidado com gente endividada! O critério da sua ação não é a honestidade e a justiça. Jesus nos conta as maneiras que esse administrador encontrou para continuar vivendo bem, sem trabalhar.

Dessa forma, ele ganha os favores e o reconhecimento dos comerciantes, mantendo a possibilidade de garantir seu nível de vida quando fosse despedido.

Lc. 16,8: E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com esperteza, pois os filhos deste mundo são mais espertos no trato com sua gente do que os filhos da luz.

Jesus conclui dizendo que o patrão elogiou não o comportamento desonesto do administrador, mas sim a sua criatividade em encontrar um caminho. Ele se empenhou em buscar caminhos para alcançar seus objetivos.

O que Jesus apresenta e quer que pensemos, não é a maneira desonesta, mas sim se temos ou  a formação não o mesmo empenho e criatividade no nosso esforço de construir o Reino. As comunidades terão que trabalhar com os problemas de administração. Existe sempre o perigo de subordinar o espiritual ao material.

Lucas escreve para comunidades em ambiente urbano onde é quase impossível viver sem o uso do dinheiro. Mas o evangelista tem consciência que o uso incorreto, uma má administração traz a marca de injustiças sociais.

Na administração do dinheiro é necessário que haja alguém que entenda de economia. Por isso é importante a formação e consolidação dos CAEPs (Comissão de Assuntos Econômicos e Pastorais) como instrumento de evangelização e o seu papel central na administração dos bens das comunidades.

Penso que a conclusão do ensinamento dessa parábola e que dá sentido a ela está nos versículos seguintes (Lc. 16,9-13) que será a leitura de amanhã: A Parábola do rico e de Lázaro.

Que o Senhor nos ajude a enfrentar os desafios e encontrar meios necessários para instaurar a verdadeira justiça.