O Senhor desistiu do mal - Cônego Celso Pedro da Silva

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11/09/2016 - 00:15

Lc 15,1-10
24º DOMINGO DO TEMPO COMUM

O povo de Deus se corrompeu, desviou-se do caminho, fez um bezerro de metal e o adorou. Os hebreus agiram como se tivessem sido libertados do Egito por força e graça de um ídolo de metal fundido. Deus então decidiu exterminá-los e criar um povo novo, da descendência de Moisés. Moisés, porém, intercedeu pelo povo, lembrando a Deus que foi ele quem tirou os hebreus do Egito com mão forte e prometeu a Abraão, Isaac e Jacó uma grande descendência. Fez uma aliança com o povo ao tirá-lo do Egito e bem antes prometeu com juramento aos patriarcas Abraão, Isaac e Israel, descendência e terra.

No versículo 12, que não se lê na Liturgia, Moisés argumenta dizendo que os egípcios poderiam afirmar que Deus enganou os hebreus e os tirou do Egito para matá-los nas montanhas. Em nossa história, temos algo semelhante em 1640, por ocasião da invasão holandesa, quando, num sermão, Pe. Vieira dizia a Deus: “Antes da execução da sentença repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso coração, enquanto é tempo, porque melhor será arrepender agora que quando o mal passado não tenha remédio”. Quando o povo não se emenda, é melhor para o povo que Deus se arrependa. “E o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo”. Jeremias e Jonas repetirão a mesma frase, mas como consequência do arrependimento. O povo se arrependeu e Deus também. “Arrependeu-se Deus do mal que disse fazer a eles” (Jn 3,10; Jr 26,13.19).

No relato do Êxodo há um pecado, um pecador, um intercessor e a misericórdia de Deus. Notem como Deus pede a Moisés que lhe permita punir o povo: “Deixa que minha cólera se inflame contra eles”. Por que Deus tem que pedir permissão a Moisés? Exatamente para que Moisés não permita que a cólera divina se inflame contra o povo. Será o próprio Moisés quem levará adiante a punição. Da parte de Deus, porém, o coração fala mais alto. Da parte do povo, não há aqui nada que manifeste um arrependimento, mas Deus perdoa porque quer perdoar. No entanto, se houver arrependimento, Deus se comove imediatamente e desiste da punição.

Por que voltou o filho pródigo neste Evangelho da Misericórdia que é o capítulo 15 de São Lucas? O pai o esperava de coração aberto, enquanto o filho ensaiava uma frase de efeito para recuperar os bens que tinha perdido. Por que voltou o filho pródigo? Voltou porque tinha fome! Paulo confessa a Timóteo: “Encontrei misericórdia para que em mim Cristo demonstrasse toda a grandeza do seu coração”. Diante de tal Deus só nos resta também a nós desistir do mal.