O Milagre do Pão - Raul de Amorim

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08/04/2016 - 00:15

Jo. 6,1-15

No texto de hoje, vamos refletir sobre o milagre do pão.  É sem dúvida, um dos sinais mais significativos da tradição evangélica. Os quatro evangelistas o mencionam em seus escritos.  João evangelista nos dá um detalhe: “Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus” (Jo. 6,4). O foco central do trecho é pensar na antiga Páscoa e a nova Páscoa que se realiza em Jesus.

Jo. 6,1-4: Jesus foi para o outro lado do mar...  No Primeiro Testamento, o povo liderado por Moisés atravessou o Mar Vermelho. Aqui, Jesus atravessa o Mar da Galiléia. Uma grande multidão seguia a Moisés no primeiro êxodo. Aqui, uma grande multidão segue Jesus. No passado, Moisés subiu a montanha. Jesus subiu a montanha e aí se sentou com seus discípulos.

Jo. 6,5-7: Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão... Muito significativo este gesto. Jesus se preocupa com a situação do povo e mais do que ensinar, procura satisfazer a necessidade básica: a fome. A pergunta que Ele faz para Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” O evangelho diz que Jesus falou assim para testar Filipe, pois sabia muito bem o que ia fazer. Como sabia? Que ensino é este?

O evangelista quer nos ensinar que se no primeiro êxodo, Moisés tinha conseguido alimento para o povo faminto. Jesus, o novo Moisés irá fazer a mesma coisa. A resposta de Filipe revela a mentalidade de alguns seguidores de Jesus daquele tempo e muitos do nosso tempo. “Nem o dinheiro de duzentos dias de trabalho daria para comprar pão e cada um receber um pouco...” Filipe constata o problema e reconhece a sua total incapacidade de resolvê-lo. Faz o lamento, mas não apresenta solução. Hoje se diz: “vai ser sempre assim e não se pode mudar”.

Jo. 6,8-9: André e o menino... A seguir aparece em cena André: “Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes... Mas o que é isso para tanta gente?” O discípulo “se virou” e descobriu um menino com sua pequena contribuição. Naquele tempo era o alimento diário da gente pobre. Mas André não está convencido que “sua descoberta” possa servir para alguma coisa. Mesmo assim conduz o menino até Jesus.

Jo. 6,9-11: “O milagre...” Agora é Jesus que volta a aparecer e toma a iniciativa, o agir. Jesus aceita a oferta do menino e simplesmente, sem ostentação de poder, depois de agradecer, começa ele mesmo a distribuir a comida. O texto diz: “Jesus tomou os pães, agradeceu e distribuiu aos que estavam sentados. Fez a mesma coisa com os peixes. E todos comeram o quanto queriam” (Jo. 6,11).

Com estas palavras o evangelista faz memória do gesto da Ceia, do jeito que era celebrada nas comunidades (1 Cor.11, 23-24). E o milagre acontece. A Eucaristia levará as pessoas à partilha como levou o menino a entregar o seu sustento para ser partilhado.

Jo. 6,12-15: “Queriam fazê-lo rei...” O povo interpreta o gesto de Jesus dizendo: “Este é realmente o Profeta que vem ao mundo!” A intuição do povo está correta. Mas essa idéia tinha sido desviada pela ideologia da época “que queria um grande rei que fosse forte e dominador”. Por isso, vendo o sinal, o povo proclama Jesus como Messias e querem fazê-lo rei. Jesus, percebendo o que iria acontecer foge sozinho e vai para a montanha.

O evangelho de hoje quer nos ensinar que devemos ser discípulos e discípulas capazes de partilhar o que somos e temos em favor da construção de uma sociedade onde todas e todos tenham voz e vez, onde vivam na liberdade e dignidade de filhos e filhas de Deus.