“Na mesa, com Jesus” - Raul de Amorim

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01/07/2016 - 00:15

Mt.9,9-13

A parte narrativa dos capítulos 8 e 9 de Mateus tem como finalidade mostrar como Jesus praticava o que acabava de ensinar no Sermão da Montanha.  O trecho de hoje nos relata como Jesus convivia e incluía as pessoas que eram consideradas marginalizadas e excluídas da sociedade. O evangelho narra o chamado de Levi também chamado de Mateus que era publicano ou cobrador de impostos.

Mt.9, 9: Tendo partido daí, Jesus viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria de impostos... O Império Romano dispunha pessoas nativas de cada lugar encarregadas de recolher as taxas de impostos que o povo devia pagar ao Imperador. Essas pessoas eram odiadas pela população por este serviço prestado aos romanos. Muitas vezes eram exploradores, desviavam o dinheiro e cometiam injustiças aos próprios conterrâneos.

Eram chamados de publicanos. Os publicanos recebiam seus próprios salários cobrando uma parte a mais do que seu empregador exigia. Os judeus consideravam impuro o dinheiro deles. Não era permitido aos cobradores de impostos prestarem depoimento no tribunal. Pela lei eram considerados “pecadores públicos”.

O evangelho quer nos ensinar que o centro da missão de Jesus é buscar o que estava perdido.  É um convite para rompermos com qualquer preconceito que deixe alguém fora do reino.

Mt.9,10: Ora, aconteceu que Jesus estava em casa sentado à mesa... Parece que o nosso personagem não era pobre, porque ele deu um banquete em sua própria casa. O evangelho de Lucas diz: Então Levi ofereceu a Jesus um grande banquete em sua casa. Estava com eles à mesa um grande número de cobradores de impostos e outras pessoas (Lc.5,29). Jesus é à favor da frase: “Todo mundo junto e misturado”. No tempo das comunidades de Mateus, os judeus viviam separados dos pagãos e dos pecadores e não comiam com eles na mesma mesa.

O evangelho quer nos ensinar que a missão das comunidades era oferecer um lugar aos que não tinham lugar. Mas esta nova lei não era aceita por todos. Em algumas comunidades, as pessoas vindas do paganismo, mesmo sendo cristãs, não eram aceitas na mesma mesa. Em Atos dos Apóstolos o apóstolo Pedro orienta: “Mas Deus me mostrou que não se deve considerar ninguém como profano ou impuro” (At.10,28).

Mt.9,11: Por que o mestre de vocês come entre cobradores de imposto e pecadores? Para os fariseus e também para seus seguidores é escandaloso o fato de Jesus chamar Mateus para ser seu seguidor! E, como se isso não bastasse, vai à sua casa e se senta à sua mesa. Por causa das leis da pureza, não podiam sentar na mesma mesa para comer com os pagãos. Comer com os pagãos significava contaminar-se e tornar-se impuro.

Com essa atitude, Jesus mostra como rejeita os esquemas que discriminam as pessoas, tanto do ponto de vista social como religioso.  Nos anos setenta, época em que Mateus escreve, este conflito era muito atual.

Mt.9,12-13: Jesus ouviu e respondeu: Não são os sadios que precisam de médico, e sim os doentes... A resposta que Jesus dá aos fariseus revela seu conhecimento da vida de Mateus, que o faz “merecedor” de uma atenção privilegiada por parte dele: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas sim as que estão doentes”. Este jeito de olhar que Jesus tem é “revolucionário” porque está carregado de compaixão e misericórdia. Jesus não julga nem condena o cobrador de impostos, antes, é capaz de convidá-lo para uma vida diferente que brota da amizade com Ele.

Para Mateus abre-se a possibilidade de um caminho novo, impensável até esse momento. É convidado a deixar de ser uma peça na engrenagem do império opressor, para passar a ser íntimo colaborador na construção de um reino de liberdade, justiça e solidariedade. Jesus deixa claro que o verdadeiro sentido da Lei só é captado a partir da prática da misericórdia.