MOMENTOS DA PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO MARCOS E A CF. 2018 - Raul Amorim

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30/03/2018 - 13:30

Violência, sofrimento, paixão e morte era o pão de cada dia das comunidades dos anos 70. Hoje muitas pessoas também experimentam essa realidade de violência especialmente os mais pobres. Na maneira de descrever o sofrimento, a paixão e a morte de Jesus, o evangelista Marcos nos ajuda a experimentar, desde no meio do sofrimento, algo da vitória da vida sobre a morte.

Mc. 14,32-36: E foram a um lugar chamado Getsêmani. Jesus disse a seus discípulos: “Fiquem aqui sentados, enquanto eu rezo”. Levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar apavorado e angustiado. E lhes disse: “Minha alma está em aflição de morte. Fiquem aqui e vigiem. E indo um pouco adiante, caiu por terra, e rezava para que passasse dele àquela hora se possível. E dizia Abba, Pai! Para ti, tudo é possível. Afasta de mim este cálice. Porém, não o que eu quero, mas o que tu queres”

Jesus sai para fora da cidade. No Horto experimenta uma terrível angústia. O que passa na cabeça de Jesus? Uma luta dramática, em que se defrontam a companhia e a solidão, o medo e a serenidade a coragem de continuar o projeto até o fim e a vontade de desistir e fugir. Mas a sua fé, sustentada pela oração, é maior que a solidão e a crise.  

Num tempo em que a violência toma conta do nosso Brasil dá vontade de largar tudo para se proteger. Agonia, medo, solidão, abandono, sentimento de derrota são experiências que nos acompanham...  A oração é a fonte que reanima o projeto de vida segundo a vontade do Pai... Onde e como Jesus está agonizando hoje?

Mc. 14,55-59: Os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus, para matá-lo, mas não encontravam. Porque muitos davam falso testemunho contra ele, mas os testemunhos não coincidiam, não correspondiam. Então alguns, levantando-se deram falso testemunho contra ele dizendo: Eu vou destruir este Templo feito por mãos humanas, e em três dias vou construir outro, não feito por mãos humanas. Mas nem assim o testemunho deles coincidia.

O objetivo dos que julgam Jesus não é buscar a justiça, mas garantir que ele seja condenado. Para isso vale qualquer coisa, até falsos testemunhos. Querem apenas um argumento para dar aparência legal ao crime violento que estavam tramando. Para isso montam um processo falso para justificar tal decreto.

A falsidade está presente em todos os setores... Mais da metade da população carcerária, mesmo depois de anos presa, ainda não compareceu diante de um juiz para julgamento. Isto também é violência...

Mc. 15,11-15: Os chefes dos sacerdotes atiçaram a multidão para que Pilatos soltasse Barrabás. Pilatos perguntou de novo: “O que farei com Jesus que vocês chamam de rei dos judeus?” Mas eles gritaram de novo: “Crucifique!” Pilatos perguntou: “Mas que mal ele fez?” Eles, porém, gritaram com mais força: “Crucifique!” Pilatos queria agradar a multidão. Soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus e o entregou para ser crucificado.

O julgamento de Jesus é encaminhado de maneira que os interesses da classe dominante sejam preservados e a população, mais uma vez manipulada, tenha a sensação de que sua vontade foi levada em consideração.

A mídia é a grande colaboradora do processo da naturalização da violência. Ela centraliza o problema em alguns contextos específicos, por exemplo, o narcotráfico, os assassinatos e as guerras, como se ela só fosse possível nesses “ambientes organizados”. Esquece-se que a violência nasce no próprio ser humano quando este escolhe o caminho do querer ter tudo, a todo custo.

Mc. 15,40-41.47: Também algumas mulheres estavam ai, olhando de longe, entre elas Maria Madalena, Maria mãe de Tiago Menor e de Joset, e Salomé. Elas seguiam e serviam Jesus, quando ele estava na Galiléia. E muitas outras, tinham subido com ele para Jerusalém. Maria Madalena e Maria de Joset observavam onde o corpo de Jesus tinha sido colocado.

É importante saber que o grupo de Jesus era composto desde o início por algumas mulheres. Elas acompanharam toda violência praticada contra Jesus. Agora elas testemunham a morte  e o lugar onde Jesus foi sepultado. Os outros fugiram.

Lembramos das mulheres que sofrem violência em nosso país. Em 2013 houve 4.762 assassinatos de mulheres, o que significa 13 mulheres mortas por dia no Brasil naquele ano. O Brasil ocupa a quinta posição entre as nações que mais assassinam mulheres...

Num tempo de sofrimento é sempre bom lembrar: “Para as pessoas que sofrem Deus não dá um raciocínio que explique tudo, mas oferece a sua resposta sob a forma de uma presença que o acompanha, de uma história de bem que se une a cada história de sofrimento para nela abrir uma brecha de luz”. (Papa Francisco)