“Minha Casa Será Casa de Oração” - Raul de Amorim

A A
18/11/2016 - 00:15

Lc. 19,45-48

Hoje a Igreja celebra a Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo, templos em Roma que contêm os restos destes dois grandes apóstolos do cristianismo. A leitura escolhida descreve como Jesus, animado pelo zelo pela casa do Pai, expulsou aqueles que deturpavam o verdadeiro sentido do Templo.

Lc. 19,45: Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores...

Os quatro evangelhos relatam a expulsão dos mercadores do Templo, porém Mateus, Marcos e Lucas colocam esse acontecimento como tendo ocorrido no final do ministério de Jesus, enquanto João o coloca no começo.

Os vendedores eram cambistas (qualquer israelita, rico ou pobre, ao atingir 20 anos, era obrigado a pagar meio Shekel também conhecido como siclo de prata equivalente a 11 gramas de prata) para o tesouro do Templo como oferta a Javé. O pagamento tinha que ser feito obrigatoriamente em moeda hebraica. Comercializavam também animais para o sacrifício.

Era conveniente que ficassem perto do Templo, porém a presença deles dentro do pátio do Templo tornava difícil o culto de adoração. Por isso, num gesto violento de autoridade, Jesus declara encerrado o expediente do Templo e põe fim ao culto da forma com este estava sendo realizado.

Lc. 19,46: E disse: Está escrito: “Minha casa será casa de oração”. Mas vocês a transformaram em abrigo de ladrões...

Jesus cita dois profetas: Isaías e Jeremias. Isaias dizia: “Vou fazê-los felizes na minha casa de oração... pois minha Casa será chamada Casa de Oração para todos os povos” (Is. 56,7). A realidade, porém, era outra.  Estrangeiros, mulheres e pessoas consideradas impuras não podiam entrar no Templo. Eram excluídas.

Por meio do texto de Isaías, Jesus ensina que o Templo não deve ser um lugar de exclusão, mas sim de inclusão. Deve ser aberto para todos. Jeremias dizia: Este Templo, onde meu nome é invocado, será por acaso abrigo de ladrões? Estejam atentos, porque eu estou vendo tudo isso - oráculo de Javé. (Jr.7,11) A mesma realidade estava acontecendo no tempo de Jesus.

Citando o profeta Jeremias, Jesus denuncia o mau uso do Templo. A fé não pode ser usada para explorar o povo nem para sustentar os privilégios de alguém.

Lc. 19,47-48: E Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os chefes dos sacerdotes, os doutores da Lei e os chefes do povo procuravam matá-lo. Mas não sabiam o que fazer, pois o povo todo ficava atraído por Ele, ao ouvi-lo falar.

O gesto de Jesus expressa um julgamento do Templo, que deixara de lado as exigências de justiça aos que aí acorriam para cultuar Javé. É preciso dar ao Templo nova direção, para merecer a condição de casa de Deus.

É o que Jesus faz por meio do seu ensinamento, que causa raiva nas autoridades religiosas que controlavam aquele espaço. Mas o povo ficava fascinado com os ensinamentos.

Para refletir: Conhece casos de pessoas ou de instituições que se aproveitam da fé para se promover, dominar, oprimir, impor suas ideias e até mesmo se enriquece ou para levar uma vida mais na fácil? Se Jesus aparecesse hoje e se entrasse na igreja ou no templo, o que faria?