Justiça no matrimônio - Raul de Amorim

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14/08/2015 - 00:15

Jesus sai da região da Galiléia e vai em direção à região da Judéia, sempre acompanhado de muita gente. Ao longo da estrada que leva a Jerusalém ocorrem alguns encontros que nos fazem refletir. A leitura de hoje nos apresenta o encontro com os fariseus.

Alguns deles se aproximam de Jesus e lhe fazem uma pergunta maldosa e provocativa. Uma famosa “pegadinha” na linguagem de hoje: “É permitido divorciar-se da própria mulher por qualquer motivo”? O tema divórcio criava muita polêmica nas comunidades. A lei de Moisés dizia: “Se um homem tomar uma mulher e exercer nela os seus direitos de senhor, mas ela cair em desgraça aos olhos dele por ter visto nela algum inconveniente, então ele escreverá um documento de divórcio e o colocará nas mãos dela expulsando-a de casa”. (Dt.24,1)

A questão era a interpretação, o significado da expressão “alguma coisa inconveniente”. Uns achavam que podia ser “por qualquer motivo”. Outros, que devia ser “falta moral grave”. Em todo caso, era sempre o homem que tinha direito de pedir ou dar a carta de divórcio à mulher. A lei de Moisés mantinha o privilégio do homem sobre a mulher. Como responder?

Jesus não entra no jogo deles. Ele, como o novo legislador, retira esse privilégio. Ele vai mais a fundo e aproveita para ensinar a vontade de Deus: “Vocês não leram que desde o princípio o Criador os fez homem e mulher? (Gn 2,24) Esta é a pergunta fundamental. Jesus faz “memória” da Bíblia e afirma a radical igualdade de ambos nos direitos e deveres. Jesus denuncia a dureza dos corações que entortam o significado da Palavra de Deus em benefício próprio. Ele vai contra os direitos exclusivistas que a sociedade da época dava aos homens em relação às mulheres. Critica a dureza dos que não buscam discernir qual é a vontade de Deus, mas só pensam em preservar o domínio que tem sobre a mulher.

O casal deve se esforçar para criar uma comunidade de vida e amor na família. O que une o homem e a mulher é o amor. Só o amor é capaz de fazer com que duas pessoas se tornem uma só carne. É o amor o critério do discernimento no caso do divórcio.

Coincidências que ligam a Bíblia e a vida: Estamos terminando a Semana Nacional da Família com o tema: “O amor é a nossa missão: a família plenamente viva”. Outra “coincidência”: hoje é festa de São Maximiliano Maria Kolbe, frade franciscano que se ofereceu para morrer no lugar de Franciszek Gajownizek. Suas palavras: “Quero morrer no lugar desse homem”. E quando questionado pela atitude respondeu: “Porque ele tem mulher e filhos”.