“FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER” > Raul Amorim

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12/10/2018 - 08:45

Jo. 2,1-11

Neste dia de Nossa Senhora Aparecida, festa da Padroeira do Brasil, o evangelho descreve a festa das bodas de Canã da Galiléia. A mãe de Jesus estava na festa, Jesus e seus amigos também foram convidados. Tem festas que a gente guarda na memória. Parece que, com o passar dos anos, elas tomam um sentido mais profundo... A festa das bodas de Canã cresceu na memória do povo de ontem e de hoje. Vamos meditar

Jo. 2,1-2: Três dias depois houve um casamento em Caná da Galiléia, e aí estava a mãe de Jesus. Também Jesus foi convidado para o casamento, junto com seus discípulos.

No Evangelho de João, o início da vida pública de Jesus acontece numa festa de casamento, que é sempre um momento de muita alegria e de muita esperança. Por isso mesmo, o casamento de Caná tem um sentido simbólico muito forte.

Na Bíblia, a festa de casamento era um símbolo do amor de Deus para com seu povo. Foi o profeta Oséias (cerca de 750 a.C.) quem, pela primeira vez, apresentou a esperança deste casamento quando conta sua parábola da infidelidade do povo diante das propostas de Javé. “Eu me casarei com você para sempre. Eu me casarei com você na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu me casarei com você na fidelidade, e você conhecerá Javé”. (Os. 2,21-22)

Jo. 2,3-5: Faltou vinho, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não tem mais vinho!” Jesus respondeu: “Mulher, que temos a ver com isso? Minha hora ainda não chegou”. A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: “Façam tudo o que ele disser”.

Apesar de não ser chamada pelo nome, a mãe de Jesus aparece duas vezes no Evangelho de João: no começo, nas bodas, e no fim, ao pé da cruz (Jo. 19,25-27). Nos dois casos ela representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois.

Na festa de casamento em Caná da Galiléia, é ela, a mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, que percebe os limites do Antigo, e dá os passos para que o Novo possa chegar.

Jo. 2,6-8: Tinham sido deixados aí seis jarros de pedra, com cerca de cem litros cada um, e que serviam para as purificações que os judeus costumavam fazer. Jesus disse aos que serviam: “Encham esses jarros com água”. Eles os encheram até a borda. Depois Jesus disse: “Agora tirem e levem ao chefe da cerimônia”. Eles assim o fizeram.

A recomendação da Mãe de Jesus aos empregados é o último grande recado do Antigo Testamento: “Façam tudo o que ele lhes disser!” O Antigo Testamento aponta para Jesus. Daqui pra frente, são as palavras e gestos de Jesus que vão dar rumo à vida. Quanta gente dos nossos dias justifica seus atos incoerentes com o Antigo Testamento!

Jesus chama os empregados e manda encher de água os seis potes vazios. Em seguida, manda tirar e levar ao mordomo. As iniciativas de Maria e de Jesus acontecem sem consentimento dos donos da festa. Nem Jesus, nem sua mãe, nem os empregados eram os donos. Nenhum deles foi pedir licença aos donos da festa. A renovação passa por pessoas que não pertencem ao centro do poder!

Jo. 2, 9-10: Quando o chefe provou da água transformada em vinho, sem saber de onde vinha (os serventes sabiam), chamou o noivo e disse: “Qualquer um serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados, aí serve o menos bom.Você, porém, guardou o vinho bom até agora”.

O simbolismo da água tornada vinho é muito importante. Os jarros era água para purificação. Com essa história o evangelista quer mostrar que doravante os ritos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus.

Podemos entender isso como mudança de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente considerada impura, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus.

Jo. 2, 11: Este foi o princípio dos sinais, e Jesus o fez em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele.

Este é o primeiro sinal. No evangelho de João, o primeiro sinal acontece para reconstrução da família, da comunidade, para refazer as relações básicas entre as pessoas. Os discípulos acreditaram nele porque a fé não era somente intelectual ou teórica, mas no seguimento concreto do Mestre, na formação de novos relacionamentos de amor.

Passo por passo o autor do evangelho vai revelando Jesus através de sinais para que nós possamos “acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome” (Jo. 20,31)

Que na festa da Mãe Aparecida aprendamos cada vez mais o seu recado: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos) Raul de Amorim Pires>raul4ap@gmail.com