Eu vos chamo de amigos - Raul de Amorim

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29/04/2016 - 00:15

Jo. 15,12-17

O mundo em que vivemos é marcado pelo egoísmo e pela competição. Essa realidade provoca em todos muitos sofrimentos, angústias e frustrações. Muitas vezes nos sentimos como que instrumentos desta sociedade consumista, que perdeu o respeito pelos sentimentos humanos e que teima em manter-nos servos, prestadores de serviço. O evangelho vai nos falar do amor como doação e da verdadeira amizade.

Jo. 15,12-14: Este é o meu mandamento... Jesus ultrapassa o Primeiro Testamento. O critério era: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv. 19,18) O novo critério é: Este é o meu mandamento: Amem-se uns aos outros, assim como eu amei a vocês. Ninguém tem amor maior do que alguém que dá a vida pelos amigos. Essa frase de Jesus lembra um canto muito querido pelas nossas comunidades: “Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão”!  Jesus diz que o amor vale mais que esta vida, porque lhe dá sentido e a transcende.

A vivência cristã tem dois aspectos inseparáveis: permanecer em Jesus e comprometer-se amorosamente com os irmãos. É preciso sintonizar a mente e o coração com Jesus, de maneira que os frutos possam aparecer. E o mais importante deles é o amor entre os membros da comunidade. Assim, ninguém se sentirá excluído. “Vocês são meus amigos, se fizerem o que estou mandando” Jesus amou com seus gestos, suas palavras, seus compromissos.

Jo. 15,15: Amigos e não servos... Jesus coloca um ideal muito importante para a vida das comunidades: Ele diz: Eu já não digo que vocês são servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz; eu chamei vocês de amigos... Jesus não quer uma adesão de servos, pois os servos somente cumprem e obedecem a uma ordem a ele determinada. Amizade é dom. Jesus é o amigo que dá a vida pelos amigos. Muitas vezes somos apenas cumpridores de preceitos, obrigações...

Eu chamei vocês de amigos, porque fiz vocês conhecerem tudo que ouvi do meu Pai... Jesus não tinha mais segredos para seus discípulos e discípulas. Tudo que ouviu do Pai ele contou para nós! Este é o ideal bonito da vida em comunidade: chegarmos ao ponto de não haver mais segredos entre nós e de podermos confiar uns nos outros e assim partilharmos a experiência que temos de Deus e da vida.

Os primeiros cristãos conseguiram realizar este ideal durante alguns anos: “A multidão dos que acreditavam era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram seus os bens que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum”. (At. 4,32) O nosso povo canta: Os cristãos tinham tudo em comum / dividiam seus bens com alegria / Deus espera que os dons de cada um / se repartam com amor no dia a dia.

Jo. 15,16-17: Não foram vocês que me escolheram... Não fomos nós que escolhemos Jesus, foi ele que nos encontrou, nos chamou e nos deu a missão de ir e dar fruto, fruto que permaneça. Nós precisamos dele, mas ele também quer precisar de nós e do nosso testemunho para poder continuar fazendo hoje o que fez para o povo do seu tempo. Sua ultima recomendação: “É isto que ordeno a vocês: Amem-se uns aos outros”.