Eu mostrei a vocês muitas coisas boas - Raul de Amorim

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07/04/2017 - 00:15

Jo. 10,31-42

Estamos chegando perto da Semana Santa, em que atualizamos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Desde a quarta semana da quaresma, os textos dos evangelhos diários são tirados do Evangelho de João dos capítulos que acentuam a tensão dramática entre o projeto de Jesus e os líderes religiosos.

Jo. 10,31-32: Os judeus pegaram pedras outra vez, para atirar em Jesus. Então Jesus disse: “Eu mostrei a vocês muitas coisas boas que vêem do Pai. Por qual delas vocês estão para me apedrejar?”

Esta maneira de apresentar o conflito entre Jesus e as autoridades religiosas não é só algo que aconteceu no passado. É também como que um espelho que reflete o que está acontecendo em nossos dias. É em nome de Deus que pessoas se transformam em bombas vivas e matam os outros.

É em nome de Deus que nós membros das três religiões do Deus de Abraão, judeus, cristãos e muçulmanos, nos condenamos e nos combatemos ao longo da história. Em nome de Deus foram feitas muitas barbaridades e continuam sendo feitas até hoje. Como é necessário o ecumenismo entre nós! A quaresma é um período importante para parar perguntar: Qual a imagem de Deus que habita o meu ser?

Jo. 10,33: Os judeus responderam: “Não vamos apedrejar-te por causa das boas obras, mas por causa de blasfêmia: tu que és apenas um homem, te mostras como se fosses Deus”.

As autoridades não conseguiam ver que as obras que Jesus realizava mostravam o quanto ele estava unido ao Pai. O fato de ele ser a favor da vida dos mais pequenos e dos miseráveis era inconcebível para eles. Os adversários dele se fundamentavam em doutrinas e fórmulas que não havia espaço para a misericórdia.

Jo. 10,34-35: Jesus disse: “Não está escrito na Lei de vocês: Eu disse vocês são deuses? Se são chamadas deuses aquelas pessoas para quem veio a palavra de Deus, e a Escritura não pode ser anulada...

Jesus recorre ao salmo 82,6: “Eu disse vocês são deuses. São filhos do Altíssimo” Essa resposta de Jesus poderia ser interpretada: vocês me acusam de blasfêmia por eu dizer que sou “Filho de Deus”, mas a própria Escritura de vocês utiliza a mesma expressão para os juízes. Vamos ver a intenção do salmo: “Através deste antigo hino da Bíblia, contemplamos um debate entre o Deus da Justiça e os deuses (juízes) do sistema dominante. O amor divino condena e combate os juízes injustos do mundo. (com os salmos, orar o hoje do mundo. Marcelo Barros pg.108)

Jo. 10,36-37: “... como é que dizem que está blasfemando aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo? Se não faço as obras do meu Pai, não acreditem em mim”.

Se aqueles nomeados para ocuparem uma posição de autoridade podem ser considerados “deuses”, quanto mais deve ser assim considerado aquele a quem o Pai enviou.

Se a Bíblia faz tal declaração, é sensato aplicá-la também a Jesus. A consciência de se chamar Filho de Deus por parte de Jesus estava no fato de realizar as obras do Pai. Era o pano de fundo de toda sua pregação.

Jo. 10,38-39: “Mas, se eu as faço, ainda que vocês não acreditem em mim, acreditem pelos menos em minhas obras. Assim, saibam vocês e se convençam de que o Pai está presente em mim, e eu no Pai”. Tentaram outra vez prender Jesus, mas ele saiu do meio deles:

Jesus torna a falar das obras que ele faz e que são a revelação do Pai. Mais tarde ele vai repetir aos seus discípulos: Você não acredita que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que estou dizendo a vocês, não as digo por mim mesmo. É o Pai que permanece em mim, ele é quem realiza as suas obras. (Jo. 14,10)

Jo. 10,40-42: Jesus partiu de novo para o outro lado do rio Jordão, para o lugar onde antes João ficava batizando. E aí ficou. Muitos foram ao seu encontro. E diziam: “João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito desse homem é verdadeiro.”

A memória do testemunho de João reforça a convicção de que o caminho está em apostar no seguimento de Jesus em vista dos sinais que veio realizando e do sentido libertador de toda sua obra. Jesus mostra a continuidade da sua missão com a missão de João. O povo reconhece em Jesus aquele que João tinha anunciado.