Esses vieram da grande tribulação - Cônego Celso Pedro da Silva

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06/11/2016 - 00:15

Mt 5,1-12a

“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus antigamente aos nossos antepassados por meio dos profetas. Agora ele nos fala por meio do Filho, que é o herdeiro de todas as coisas e pelo qual fez o mundo”. Assim começa a Carta aos Hebreus. No passado, Deus se fez ouvir por meio de muitas vozes. Agora fala por sua única Palavra, que com ele existe desde o princípio, Palavra que sai da boca do Pai, e da própria boca faz sair o sopro do Espírito. Basta ouvi-la, porque a Palavra se encarnou e tornou-se em tudo semelhante a nós, menos no pecado. Podemos vê-la, ouvi-la e apalpa-la. Podemos vê-la com olhos humanos. O que era invisível pode agora ser visto. O que não era matéria pode ser tocado. O que não se representava é agora figura humana, que fala na imagem e na pintura.

Fala ou falou? Falava aos do seu tempo, quando percorria os nossos caminhos e pisava o nosso chão. E agora como fala? “Vocês acreditam porque viram, disse ele um dia. Felizes os que vão acreditar sem terem visto”. Já não vemos a figura nem ouvimos o som, mas nem por isso estamos na escuridão. “Na tua luz vemos a luz”. A Palavra se encarnou também em letras e se perpetua nas Escrituras. Nelas Jesus nos fala. Fala nas letras visíveis das Escrituras que se tornam sonoras quando pronunciadas. O que são essas letras senão imagens codificadas da revelação de Deus? Mas são letras mortas, que não se movem e podem estar empoeiradas na estante de uma biblioteca ou esquecidas num canto de nossa casa. Não tem ele um meio mais sonoro de falar, com sons que atinjam os ouvidos e com imagens que se refletem na vista? Há outro meio de proclamar a Palavra que não seja com vocábulos? É possível gritar o Evangelho com a própria vida? Já se disse que a melhor interpretação das Escrituras é a vida dos Santos e das Santas de Deus. Ele fala nas vidas dos que leem e praticam as Escrituras meditadas.

Nós cremos em Jesus, mas não o vemos com os olhos da carne. Nós o imaginamos de diversas maneiras nas esculturas e nas pinturas que o representam, e nos filmes que o retratam. As Escrituras Sagradas são letras mortas que recebem vida de quem as lê. É o leitor quem dá vida aos textos escritos. Outro, porém, é o testemunho daqueles que vieram da grande tribulação, que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, que têm a fronte marcada com o selo do nosso Deus, que têm mãos puras e inocente coração, que não dirigem sua mente para o crime. Estes participam da santidade de Deus e nos falam aos ouvidos com o que dizem e aos olhos com o que praticam.