Essência do Jejum - Raul de Amorim

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03/03/2017 - 00:15

Mt.9,14-15

O sentido do cristianismo é anunciar Jesus Cristo, o mesmo de ontem de hoje e de sempre. Precisamos ficar “antenados” com a realidade para conseguirmos responder aos questionamentos do dia a dia. É necessário utilizar métodos novos nessa missão, senão vamos ficar “parados no tempo”. Somos anunciadores da Boa Nova do Evangelho. A leitura de hoje nos fala da essência do jejum.

Mt.9,14: ...Foi quando os discípulos de João se aproximaram de Jesus dizendo: “Por que nós e os fariseus jejuamos tanto, e os teus discípulos não jejuam?”

A Bíblia faz muitas referências ao jejum. Era uma forma de fazer penitência e provocar a conversão. Também era um sinal da espera do Messias, um sinal para implorar a misericórdia de Deus ou ainda mostrar arrependimento dos pecados. Os seguidores de João Batista jejuavam pelo menos uma vez por semana.

É interessante observar que algo novo está acontecendo: os seguidores de Jesus não têm nada em comum com os de João Batista, nem com os fariseus. Em nossas comunidades existem pessoas que se preocupam em observar as leis e muitas vezes questionam aqueles que não cumprem.

Mt.9,15: Jesus lhes disse: “Por acaso os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado deles. Então sim, farão jejum.

É bom lembrar que Jesus fez a experiência do jejum durante quarenta dias (Mt.4,2).  Como entender então essa questão? Os seguidores de Jesus tinham algum privilégio?! Jesus faz uma comparação: Vocês acham que os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles? Com essas palavras Jesus restringiu o jejum à sua ausência no meio deles, ou seja, ao breve espaço de tempo que vai de sua morte à sua ressurreição.

Em outras palavras, Jesus estaria abolindo o jejum do luto e o da espera do Messias como se costumava fazer no Antigo Testamento. Fica em aberto o caminho para o “jejum” proclamado por Isaías no capítulo 58 onde se aprende que o jejum, oração e a esmola são práticas de piedade que no exílio serviam para garantir a identidade dos judeus exilados. Jesus se referia muito ao profeta Isaías.

Nesse sentido, o jejum hoje encontra seu espaço enquanto denúncia de ausência de vida e de compromisso com o Deus da vida. Olhando ao nosso redor, temos a impressão de que “o noivo está ausente” ou nos foi tirado, não por vontade dele, mas pela falta de compromisso com a vida dos que mais sofrem. Nesse sentido o jejum é mais que necessário e atual.