Entendendo a Lei de Deus - Raul de Amorim

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19/02/2016 - 00:15

Mt.5,20-26

Para entender melhor o texto voltemos ao versículo dezessete onde Jesus diz: “Não pensem que eu vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir, mas cumprir” (Mt.5,16). Na leitura de hoje, Mateus mostra como Jesus interpreta e explica a Lei. A atitude parece ao mesmo tempo de ruptura e de continuidade. Ele rompe com as interpretações erradas, mas mantém firme o objetivo que a Lei quer alcançar: a prática da justiça maior que é a misericórdia.

Mt. 5,20: A justiça maior que a justiça dos fariseus - A palavra justiça no evangelho de Mateus aparece sete vezes. Isso tem a ver com a situação das comunidades para as quais ele escreve. O ideal religioso dos judeus do tempo de Jesus era: “ser justo diante de Deus”. Os fariseus ensinavam: “A pessoa alcança a justiça diante de Deus quando observa todas as normas da Lei em todos os seus detalhes”. Isso trazia muita angústia para as pessoas, pois era muito difícil observar. Era um fardo por demais pesado!

Mateus recolhe as palavras de Jesus sobre justiça mostrando que ela deve ultrapassar a dos fariseus. O novo ideal que Jesus propõe é: “eu serei justo diante de Deus quando procuro acolher e perdoar as pessoas da mesma forma como Deus me acolhe e me perdoa apesar dos meus defeitos e pecados.”

Mt. 5,21-22: A Lei diz: Não matarás (Ex.20,13) - Para observar plenamente não basta evitar o assassinato. É necessário arrancar de dentro de si tudo que possa levar ao assassinato: raiva, ódio, xingamento, desejo de vingança, exploração... O mandamento significa respeito pela vida. A vida não pode ser interrompida por uma vontade humana. Ela tem um início natural e um fim natural. Deixe que assim seja!

Mt. 5,23-24: “O culto agradável a Deus...” - Para participar dignamente da liturgia é preciso estar reconciliado com o irmão. O preceito “não matar” exprime compromisso radical com a vida, e não apenas em seu plano físico. Daí o compromisso de buscar a reconciliação sempre. Mesmo ofendido e inocente, o discípulo de Jesus deve ter a coragem de dar o primeiro passo para a reconciliação.

Mt. 5,25-26: “Vai reconciliar-te com teu irmão...” - Mateus insiste muito na reconciliação. Isso mostra que, nas comunidades daquela época, havia muitos desentendimentos. Ninguém queria ceder diante do outro. Mateus ilumina esta situação com as palavras de Jesus sobre reconciliação que pedem acolhimento e compreensão. Precisamos disso hoje!

Para Jesus a reconciliação está antes de qualquer culto a Deus, está antes que ir à missa, antes de rezar, porque o projeto do Reino é criar um mundo de irmãos onde todos possam chamar Deus de Pai. Uma oferenda só é agradável a Deus, se quem a oferece não guarda, em seu coração, ódio, rancor, ressentimento contra o próximo. Quaresma é tempo de observar com mais fidelidade os mandamentos!

“O perdão é uma força que ressuscita para uma vida nova e infunde a valentia para olhar o futuro com esperança” (Papa Francisco: Misericordiae Vultus n 10)