Mc 10,28-31
Desde pequenas, as crianças esperam recompensas por tudo que fazem, sobretudo quando realizam aquilo que agrada aos seus pais e responsáveis. Essa lógica do “eu faço, logo eu mereço” parece acompanhar a maioria das pessoas pela vida afora, extrapolando até mesmo as atividades profissionais e o trabalho remunerado. Ou seja: ela se revela nas relações familiares, afetivas, sociais e religiosas.
Isso é antigo; tanto é verdade que os discípulos de Jesus não eram diferentes nesse aspecto. Ora, eles haviam deixado tudo para seguir o mestre: a família, as relações afetivas, o trabalho, os projetos de vida e as ambições pessoais ficaram de lado ou foram descartados.
Qual seria a recompensa por tanta renúncia? Como sobreviveriam? Em que colocariam a sua esperança, considerando que o Reino exigiria deles cada vez mais entrega e cada vez mais serviço?
O coração compreensivo e misericordioso de Jesus entende a angústia de Pedro. Sua resposta é clara; contudo, difícil de ser compreendida naquele momento.
A recompensa não é “pagamento” e, tampouco, simplesmente “doada”. Ela também resulta da resposta do homem ao chamado de Deus; da sua entrega, da sua disponibilidade; da sua participação ativa na construção do Reino.
Recompensas neste mundo e deste mundo são como o próprio: desgastam-se, envelhecem, perdem o valor e o significado; são, em duas palavras, passageiras e transitórias. A vida eterna é como um “tesouro” inesgotável que Deus nos reserva. A vida vivida neste mundo jamais poderia, nem de longe, exauri-lo.
A vida eterna só pode ser alcançada por meio de uma verdadeira conversão. Essa metanoia implica abandonar a lógica da recompensa e da riqueza materiais e abraçar a lógica da partilha. Por isso Jesus afirma: “Muitos que agora são os primeiros serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os primeiros”.
Diácono Mario Braggio