Dá-me dessa água - Cônego Celso Pedro da Silva

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19/03/2017 - 00:15

Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42

Entramos na Quaresma pelo deserto na Judéia, subimos depois o monte Tabor na Galiléia e hoje nos sentamos à beira do poço de Jacó na Samaria. Conosco estão Jesus e a samaritana. Estão também os seus apóstolos. Que bom poder se sentar à beira do poço, descansar um pouco e matar a sede com água boa. Aquele poço é profundo. Tem quarenta metros. A água é boa e foi o nosso pai Jacó que a providenciou para o seu povo e o seu gado. Não é possível viver sem água. Na travessia do deserto, o povo reclamou com Moisés e com Deus, por causa da falta d’água. E com razão, tanto que Deus procurou logo uma solução a seu modo, fazendo o que só ele pode fazer. Mandou Moisés bater com uma vara num rochedo e a água brotou em abundância. Como guia do povo, Moisés aprendeu que a falta d’água pode provocar reações muito fortes e que é preciso procurar soluções naturais para as nossas necessidades. O lugar ficou chamado de Massa e Meriba, duas palavras que se completam para significar forte controvérsia, ou grande briga. Se foi possível provocar o próprio Deus para se obter água, o mesmo pode e deve ser feito quando a população fica sem água por incúria dos governantes ou, pior ainda, quando a seca se torna uma indústria. Por isso a Campanha da Fraternidade pede que todo o povo se converta em favor da mãe natureza e cuide da Casa comum.

Observando a samaritana no poço de Jacó aprendemos que devemos socorrer a quem tem sede. Jesus queria beber, mas quem tinha o balde era a samaritana. Era a sua segurança, que a fazia, aparentemente, superior ao próprio Jesus. Segurança falsa, que se desfaz assim que a mulher percebe que Jesus a conhece. Deixa então o balde e proclama Jesus profeta e Messias. Aprendemos também que além da água natural existe outra água, que mata todo tipo de sede e para sempre. É ela o próprio Jesus, fonte de água viva, o único que pode nos saciar totalmente. Aprendemos ainda que Deus procura adoradores em espírito e verdade e que o lugar pode ajudar, mas não é o mais importante. Nós somos o templo de Deus e em nós há uma vida interior que nos impulsiona a saciar a sede dos sedentos. Por isso, escreve Paulo aos romanos, que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Daí brota a verdadeira adoração, que se manifesta e é autenticada na caridade efetiva: dê água a quem tem sede. Dê a água do Batismo, água que se torna fonte que jorra para a vida eterna. O simbolismo da água neste domingo da Quaresma nos convida a atualizar o nosso batismo, tornando-o verdadeira fonte de água que sacia todo tipo de sede.