Como Era Antes?... - Raul de Amorim

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01/04/2016 - 00:15

Jo. 21,1-14

“Para entender o “pano de fundo” desta leitura faço memória de um trecho do livro de Carlos Mesters:” A morte de Jesus matou algo nos apóstolos, como a morte do marido mata algo na esposa que fica, a morte do amigo mata algo no amigo. Os apóstolos estavam mais mortos do que o próprio Cristo. Estancou-se a fonte, a água acabou. Destruíram a turbina, a luz apagou. (Deus, onde estás? pg.206). Pela terceira vez, Jesus se manifesta a seus discípulos. O ambiente é a praia no mar de Tiberíades também conhecido como Mar da Galiléia, onde tudo começou...

Jo. 21,1-3. “Depois dessas coisas...” São sete os personagens que constam no trecho: Pedro, o líder dos apóstolos; Tomé, o descrente, mas que viu sua fé fortificada; Natanael, conhecedor das Escrituras e um crítico com relação às leis; os filhos de Zebedeu, Tiago e João e dois discípulos anônimos, representando possivelmente os que se converteriam mais tarde. Alguns estudiosos dizem que os sete simbolizam as Igrejas primitivas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.

“Vou pescar”. Parece que as palavras de Pedro têm um tom de desilusão, quer voltar à rotina que tinha antes de conhecer Jesus, a vida de pescador.  Quer desistir de tudo. É interessante observar que Pedro não chama seus companheiros, eles que se dispõe: “Nós também vamos”. Eles se deixaram contagiar pelo desânimo e descrença. Desistiram da missão!

Jo. 21,4-5: “Quando amanheceu Jesus estava na margem...” Os discípulos não sabiam que era Jesus. A princípio Ele não se dá a conhecer. É um desconhecido. É alguém que está com fome: “Filhos será que vocês têm alguma coisa para comer?” Eles responderam: “Não”. A resposta negativa era a conclusão que a noite tinha sido frustrante. A exemplo das aparições anteriores a presença de Jesus Ressuscitado é algo diferente de uma presença física. Reconhecer de verdade não uma condição de enxergar bem, mas de fé.

Jo. 21,6-8: “Lancem a rede do lado direito... Jesus, aquela pessoa desconhecida que estava na praia, mandou que eles jogassem a rede do lado direito do barco e eles obedeceram e foi um resultado inesperado. Como era possível? Como explicar? De repente a vista clareou! E João diz: “É o Senhor”! João abriu os olhos de Pedro.

Quando Pedro ouviu dizer sobre a presença de Jesus vestiu a roupa, pois estava nu, e pulou na água. Literalmente uma cena estranha! Será que o evangelista quer fazer memória da carta aos hebreus onde se diz: “A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes... Não há criatura que possa esconder-se dela. “Diante dela tudo fica nu e descoberto, e a ela deveremos prestar contas”. (Hb. 4,12-13)

Jo. 21,9-14: A preocupação de Jesus... Chegando a terra viram que Jesus tinha acendido umas brasas. Estava assando peixe e pão. Ele pediu que trouxessem mais alguns peixes. Imediatamente, Pedro subiu no barco, arrastou a rede com cento e cinqüenta e três peixes. Pode parecer estranho o número 153. Segundo alguns estudiosos esse número se baseia no fato que os cientistas gregos na antiguidade achavam que havia 153 espécies de peixes. Neste sentido poderíamos pensar: Ninguém fica fora da rede!

E fazendo memória da eucaristia, o evangelista completa: “Jesus se aproximou, tomou o pão e o deu a eles, e fez a mesma coisa com o peixe. (Jo.21,13)  A leitura sugere que a eucaristia é o lugar privilegiado para o encontro com Jesus ressuscitado. Tomara  que eu e você sejamos os dois desconhecidos em processo de conversão que participaram do churrasco com Jesus! Feliz Páscoa!