Carne e Sangue: Expressão da Vida - Raul de Amorim

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05/05/2017 - 00:15

Jo. 6,52-59

No discurso do Pão da Vida (Jo. 6,22-71) através de um conjunto de sete diálogos, o evangelista explica o significado profundo da multiplicação dos pães. O sinal dos pães e peixes partilhados vai alcançando sentido mais amplo e desafiador. Este é o quinto diálogo. Vamos meditar.

Jo. 6,52-53: Os judeus começaram a refletir entre si: “Como pode ele pode dar-nos a sua carne para comer?” Jesus lhes disse: “Eu lhes garanto: Se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não tem a vida em vocês”.
Eles não entenderam as palavras de Jesus. Parece que soava como “canibalismo” Sentiram um certo mal-estar. Eles não aceitaram porque tomaram tudo ao pé da letra. Temos muitas pessoas em nossos dias que também fazem esse tipo e dizem que não se pode alterar nada daquilo que está escrito.

Era tempo da Páscoa. Dentro de poucos dias, todos iam comer o cordeiro Pascal, na celebração da noite da páscoa. Comer a carne de Jesus significava aceitar Jesus como novo Cordeiro Pascal, cujo sangue os libertaria da escravidão.

Beber o sangue de Jesus significava assimilar a mesma maneira de viver que marcou a vida de Jesus. Esse ensinamento vale também para os dias de hoje: Participando da Ceia Eucarística, assimilamos, a sua vida, a sua doação e entrega.

Jo. 6,54-55: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no ultimo dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida.”

Jesus quer ensinar que o que traz vida não é somente celebrar o maná do passado, mas sim comer este novo pão. Na Eucaristia Jesus se faz presença em milhões de pessoas. Precisamos entender que é necessário ir construindo em nossa vida e na vida da sociedade os mesmos sentimentos e projetos que Ele viveu. Isto é a verdadeira comunhão.

Jo. 6,56-57: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu permaneço nele. E como o Pai, que vive me enviou, e eu pelo Pai, assim aquele que se alimentar de mim viverá por causa de mim”.

É um diálogo bonito, mas exigente. Parece repetir o mesmo assunto, mas é num nível cada vez mais profundo. Parece uma escada em caracol. A gente vai girando parece estar no mesmo lugar, mas num nível mais alto. São palavras que exige toda uma vida para meditá-la e aprofundá-la.

O próprio Jesus se apresenta como alimento. Fortificada dessa maneira com Jesus, Palavra de Deus feita carne, a comunidade pode e deve comprometer-se com a Vida que Ele veio trazer.

Jo. 6,58-59: “Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que os antepassados comeram e depois morreram. Quem come este pão viverá para sempre”.

O pão verdadeiro de Deus é aquele que vence a morte e traz vida! Jesus tenta ajudar o povo a se libertar dos esquemas do passado. Para ele, fidelidade ao passado não significa fechar-se nas coisas de antigamente e recusar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar o novo que chega como fruto da semente plantada no passado.