Assim... não dá!? - Raul de Amorim

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19/11/2015 - 10:00

Lc. 19,45-48

O evangelho de hoje fala como Jesus entrou no Templo e expulsou de lá os vendedores. Este fato também é relatado pelos outros três evangelistas: (Mc 11,15-18), (Mt 21,12-13), (Jo.2,13-17). Podemos entender que era um fato muito importante para as primeiras comunidades.

Fazendo memória: Na festa da Páscoa o povo romeiro vinha caminhando dos lugares mais distantes para encontrar-se com Deus no Templo. É bom lembrar que “os pais de Jesus viajavam a Jerusalém todos os anos para a festa da Páscoa”. (Lc. 2,41)

O Templo ficava no alto de um morro chamado Monte Sião. O povo ao contemplar a beleza da construção a firmeza das muralhas e a grandeza das montanhas ao redor lembrava o poder e a proteção de Deus. Por isso rezava: “Aqueles que confiam no Senhor são como o Monte Sião: não vacila e está firme para sempre. Assim como Jerusalém é rodeada pelos montes, o Senhor rodeia seu povo, desde agora e para sempre". (Sl. 125,1-2)

Em Jerusalém ficava também a sede do Governo, o palácio dos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei. Eles diziam que exerciam o poder em nome de Deus e manipulavam o povo. As pessoas ligadas ao Templo aproveitavam a obrigatoriedade de oferecer sacrifícios para levar vantagem dos romeiros.

As pessoas tinham que trocar suas moedas (câmbio) com as moedas do Templo para fazer suas ofertas. O comercio de animais destinados aos sacrifícios, era controlado pelas famílias dos sumos sacerdotes. A instituição tinha se transformado numa espécie de “Banco Central” do país. As pessoas iam para o bem, mas se deparava com as coisas erradas.

O gesto de Jesus expressa um julgamento do Templo, que deixara de lado as exigências de justiça aos que aí acorriam para prestar culto a Deus. Jesus faz memória do livro do profeta Jeremias: “Este Templo, onde meu nome é invocado, será por acaso abrigo de ladrões? Estejam atentos, porque eu estou vendo tudo isso - oráculo de Javé". (Jr 7,11) Jesus lembra o profeta para denunciar todo tipo de apoio religioso à violência e à injustiça.

Uma contradição pesava sobre o Templo: De um lado, lugar de encontro e fortalecimento na fé. De outro lado, fonte de alienação e de exploração do povo. Hoje também permanece a mesma contradição: De um lado devemos contribuir para a conservação e manutenção das igrejas. De outro lado, tem gente que se aproveita disso para enriquecer.

É preciso dar ao Templo nova direção, para merecer efetivamente a condição de casa de Deus. É o que Jesus faz por meio de seu ensino, que causa o furor das autoridades religiosas e políticas que controlavam aquele espaço. O povo, ao contrário, ficava fascinado quando ouvia Jesus falar.

Fico pensando: Se Jesus aparecesse hoje e se entrasse na igreja ou templo da nossa comunidade o que faria? O que diria?