Ai de Ti, Corazim, Betsaida, Cafarnaum... - Raul de Amorim

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30/09/2016 - 00:15

Lc. 10,13-16

A leitura de hoje dá continuidade ao envio dos setenta e dois discípulos e discípulas (Lc. 10,1-12). No final deste envio Jesus recomendava sacudir a poeira da cidade onde eles não fossem recebidos (Lc. 10-10-12). O evangelho de hoje fala com mais clareza aos que se recusam a receber a Boa Nova.

Lc. 10,13-14: “Ai de ti Corazim! Ai de ti Betsaida! Porque, se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os milagres realizados em vocês”...

O espaço por onde Jesus andou durante aos três anos de sua vida missionária era pequeno. São poucos quilômetros quadrados ao longo do Mar da Galiléia. Ele veio para salvar a humanidade inteira e quase não saiu do limitado espaço.

Corazim e Betsaida. Dois pequenos vilarejos da época de Jesus, mas todas confirmadas pelos estudos da Arqueologia. Por que Jesus ficou tão indignado com essas cidades? Ele lamenta pelo endurecimento dos corações daquele povo. Ele constata que as pessoas dessas cidades não quiseram aceitar a mensagem do Reino e não se converteram. O povo estava fixado na rigidez de suas crenças, tradições e costumes e não aceitaram a mudança proposta por Jesus.

Jesus compara as duas com Tiro e Sidônia que, no passado, foram inimigas ferrenhas de Israel. Por isso foram amaldiçoadas pelos profetas (Is. 23,1); (Jr.25,22); (Ez. 26,3); (Am. 1,10). Jesus diz que essas cidades símbolos da maldade já teriam se convertido se nelas tivessem acontecido tantos milagres como em Corazim e Betsaida.

Lc. 10,15: “E você, Cafarnaum, por acaso será elevada até o céu? Você há de cair no fundo do abismo”!

Importante lembrar: de Betsaida, vieram André, Pedro e Filipe (Jo. 1,44). Cafarnaum foi a cidade onde Jesus habitou (Mt. 4,13), onde ele passou a maior parte do seu tempo, ensinando e curando as pessoas. Corazim parece ter sido lugar de grande apreço para o Mestre. Jesus lamenta que cidades de Israel que puderam contar com sua presença tenham rejeitado a mensagem do Reino e da justiça de Deus.

Jesus queria que seu povo despertasse para sua verdadeira vocação e propósito. Ele queria que o povo percebesse que a salvação, mesmo para “o povo escolhido”, não era algo que tinha nascido com eles. Por isso serão julgadas mais severamente que outras cidades estrangeiras, denunciadas em textos proféticos.

Hoje em dia não é muito diferente. Temos nossas convicções consolidadas, que ninguém  é  capaz de nos converter. Em alguns lugares o cristianismo em vez de ser fonte de mudança e conversão, tornou-se reduto de forças que contradizem o projeto de Jesus.

Lc. 10,16: “Quem escuta a vocês, escuta a mim. Quem despreza vocês despreza a mim. E quem me despreza, despreza aquele que me enviou”.

A frase acentua a identificação dos discípulos com Jesus enquanto rejeitado pelas autoridades. É na doação que os discípulos se identificam com Jesus e que se realiza o encontro deles com Deus, e que Deus se deixa encontrar por quem o procura.