A PRÁTICA DO JEJUM - Raul Amorim

A A
07/09/2018 - 11:15

Lc. 5,33-39

Jejuar era uma prática muito comum entre os judeus nos tempos do Novo Testamento. Os fariseus jejuavam duas vezes por semana. Por essa piedade achavam que eram mais dignos de estar diante de Deus. Parece que João Batista admitia essa piedade.  No texto de hoje Jesus é questionado a respeito...

Lc. 5,33: Então eles disseram a Jesus: “Os discípulos de João jejuam com freqüência e fazem orações, e assim também os discípulos dos fariseus. Os teus discípulos, porém, comem e bebem”.

Para compreender este versículo vamos relembrar como era a oração do fariseu no Templo: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como o restante dos homens, ladrões, injustos, adúlteros... Faço jejum duas vezes por semana e pago dízimo de todos os meus rendimentos”. (Lc. 18,11) Não é de se estranhar que eles se escandalizassem ao observar que os discípulos de Jesus não estavam jejuando.

Lc 5,34-35: Jesus respondeu: “Voces acham que é possível fazer os amigos do noivo jejuarem, enquanto o noivo está com eles? Mas virão dias em que o noivo será tirado do meio deles> Nesses dias, então, eles vão jejuar”.

Percebemos que o conflito gira em torno da prática do jejum. O jejum é um costume muito antigo, praticado por quase todas as religiões. O próprio Jesus o praticou durante quarenta dias (Mt. 4,2) . Jesus responde com uma comparação. Enquanto o noivo está com os amigos, isto é, durante a festa de casamento, estes não precisam jejuar.

É importante lembrar que no Antigo Testamento, várias vezes, o próprio Deus se apresenta como sendo o noivo do seu povo. No Novo Testamento na carta aos Efésios encontramos: “Maridos, tenham amor a suas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”...

Na carta aos coríntios, Paulo usa a linguagem do matrimônio para ensinar a comunidade a se entregar a Cristo: “Sinto por vocês um ciúme, como ciúme de Deus. Eu os entreguei a um único esposo, o Cristo, a quem devo apresentar vocês como virgem pura”. (2Cor. 11,2)  

O Apocalipse faz o convite para a celebração das núpcias do Cordeiro com sua esposa, a Jerusalém celeste (ver: Ap.19,7-8; 21,2. 9)

Lc. 5 36: E Jesus lhes disse ainda uma parábola: “Ninguém rasga um retalho de roupa nova para remendar roupa velha. Porque a roupa nova ficaria rasgada, e o remendo novo não combinaria com a roupa velha. E ninguém põe vinho novo em vasilhas de couro velhas. Porque o vinho novo estouraria as vasilhas, se derramaria, e as vasilhas ficariam estragadas. Ao contrário, vinho novo se põe em vasilhas novas. E ninguém que tomou vinho velho quer vinho novo, pois diz: O velho é melhor”.

Estas palavras meio que soltas no texto devem ser entendidas como uma luz que joga sua claridade sobre os vários conflitos relatados pelo evangelista Lucas, antes e depois da questão do jejum. Elas esclarecem a atitude de Jesus com relação a todos os questionamentos com as autoridades religiosas.  A religião defendida pelos fariseus autoridades era como roupa velha ou como vasilhas (odres) velhas. Não se deve querer combinar o novo que Jesus trouxe com os costumes antigos. O evangelista traz estas palavras de Jesus para orientar as comunidades do seu tempo. Havia um, grupo de judeus cristãos que queriam reduzir a novidade de Jesus ao judaísmo de antes.

Jesus não é contra o que é “velho”. O que Ele não aceita é que o “velho” se imponha ao “novo” e, assim, o impeça de manifestar-se. Seria o mesmo que, na Igreja Católica, reduzir a mensagem do Concílio Vaticano II ao tamanho da Igreja de antes do concílio, como hoje muita gente parece estar querendo.

Para pensar: Quais os conflitos em torno de práticas religiosas que, hoje trazem sofrimento para as pessoas e são motivo de muita polêmica?

P/CEBI (Centro Estudos Bíblicos) raul4ap@gmail.com