A Paixão de Jesus no Evangelho de João - Raul de Amorim

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25/03/2016 - 00:15

As autoridades, tanto dos judeus como dos romanos, pensavam ser os condutores do processo de Jesus. Na realidade é Jesus e só Ele, que decide sobre a sua vida e morte: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de recebê-la (Jo.10,18) Isto revela a total liberdade de Jesus frente a morte: “Agora estou interiormente perturbado. E o que vou dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas foi por causa disso, para esta hora, que eu vim.” (Jo.12,27).

No evangelho de João, como nos demais evangelhos, a narrativa da paixão inicia com a ceia (Jo.13-1-20), a traição de Judas (Jo.13,21-30) e a prisão de Jesus (Jo.18,1-11). Mas aqui aparece uma diferença. No evangelho de João, entre a ceia e a prisão, estão os longos discursos de despedida, feitos por Jesus. (Jo.13,31até o capítulo 17,26) O evangelista não menciona alguns detalhes que encontramos nos outros evangelhos. Ele não fala da agonia de Jesus no horto nem do Monte das Oliveiras. Não fala do beijo de Judas na hora da prisão.

João não fala sobre a fuga dos discípulos. No relato de João não aparecem figuras importantes como Simão de Cirene; a mulher de Pilatos; as mulheres que choram pelo caminho; o diálogo entre os ladrões que foram crucificados com Jesus; a confissão de fé do centurião e toda descrição dos fatos que acompanham a hora da morte de Jesus.

Por outro lado, surgem novos personagens, como Malco, o empregado do sumo sacerdote (Jo.18,10) ; a empregada do palácio de Anás  (Jo.18,16); a presença da mãe de Jesus, do Discípulo Amado e de um grupo de discípulas ao pé da cruz (Jo. 19,25-27) Aparecem ainda outros elementos próprios do Evangelho de João, tais como o lugar da prisão no riacho do Cedron (Jo.18,1) a participação de uma tropa romana na prisão de Jesus (Jo.18,3), comandada por um tribuno (comandante) (Jo.18,12); o diálogo com os que o vinha prendê-lo no horto e a queda dos soldados quando Jesus disse: “Sou eu” (Jo.18,4-9)  

 Mais alguns detalhes próprio da narrativa de João: o episódio em que Pedro corta a orelha de Malco (Jo. 18,10); o interrogatório perante Anás (Jo. 18,13. 19-24) as longas conversas de Pilatos com Jesus (Jo. 18,33-38; 19,9-11); a apresentação de Jesus como um rei (Jo.19,5.14); a detalhada descrição que se faz a respeito do letreiro da cruz (Jo.19,19-22); o sorteio da túnica sem costuras (Jo.19,23-24); o diálogo de Jesus na cruz com a mãe e o Discípulo Amado ( Jo.19,25-27); as palavras de Jesus crucificado: “Tenho sede”- “Tudo está consumado” (Jo.19,28.30). Outro detalhe de João evangelista: O lado aberto pela lança (Jo. 19,33-34).

São muitas semelhanças e muitas diferenças. Como entendê-las? Temos que levar em conta que a narrativa de João busca mostrar que durante todo processo que resultou na morte na cruz, Jesus é o senhor de todos os atos. Por isso Jesus não grita como nos outros evangelhos. Sereno, ele se despede de seus amigos, de sua mãe e depois entrega seu espírito.

A narração da paixão é mais um exemplo bem concreto de que João não relata simplesmente os fatos históricos, mas tira um raioX. Desde a sua prisão, Jesus serenamente, entrega a sua vida. “É por isso que o Pai me ama: porque eu dou a minha vida para recebê-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho o poder de dar a vida e tenho o poder de recebê-la. Esse é o mandamento do Pai”. (Jo.10,17-18). Diante de tudo isso só me resta afirmar: A morte morreu de susto quando Jesus ressuscitou!