A oração do humilde é acolhida pelo justo juiz - Cônego Celso Pedro da Silva

A A
23/10/2016 - 00:15

Lc 18,9-14

A oração do publicano chegou até ao coração de Deus. Com humildade ele suplicava: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”. Ao contrário, a oração do fariseu ficou nele mesmo e não subiu a lugar algum. “Eu não sou como os outros, eu não sou como esse cobrador de impostos, eu jejuo duas vezes por semana, eu pago o dizimo dos meus rendimentos”. Enquanto ele afirmava o seu eu, o cobrador de impostos suplicava a misericórdia de Deus. Duas figuras na quais posso me espelhar. Com qual delas eu me assemelho?

O Senhor é um juiz justo. A Escritura o retrata como quem não faz discriminação de pessoas, não prejudica o pobre, ouve o órfão e a viúva. Assim reproduzimos a imagem de um juiz justo. Por que juntar a palavra juiz com a palavra justo? Não é próprio do juiz a busca da justiça? Ou existe juiz que faz discriminação de pessoas, prejudica os pobres, não ouve a súplica de quem não sabe se defender? Diz o Salmista que Deus está perto do coração atribulado e conforta os de espírito abatido. Não deveriam ser assim todos os que julgam? Como entender que uma menina de 15 anos seja sentenciada e presa numa cela com 30 homens e nove anos depois a juíza responsável pelo caso seja sentenciada a “férias” remuneradas?!

Também o Apóstolo ao escrever a Timóteo afirma que o Senhor é um justo juiz, que dará a coroa da justiça a ele, Paulo, e a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Paulo sabe que seu fim se aproxima, e diz com firmeza o que gostaríamos de dizer na hora da nossa morte: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. O combate foi bom enquanto combate porque a luta foi real. Levado ao tribunal, ficou sozinho, abandonado pelos companheiros, à semelhança do Mestre por todos abandonado. Houve até quem deu provas de muita maldade para com o Apóstolo. Lucas foi uma exceção. Ele permaneceu junto de Paulo. Histórias da vida nossa de cada dia, que será julgada pelo justo juiz.

No entanto, que diferença há entre a oração do fariseu e as afirmações de Paulo? “Eu jejuo, eu pago o dízimo, eu combati, eu completei a corrida, eu guardei a fé!” O mesmo Paulo nos responde na carta aos Gálatas: “Cada um examine sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si e não por referência ao outro” (6,4). “Não sou como os outros”, dizia o fariseu. O problema não é ser fariseu. O problema é o enfoque religioso de sua vida. Ele estava certo em jejuar, em pagar o dízimo, em não ser ladrão desonesto, mas não estava certo ao pensar que Deus lhe devia alguma coisa por isso.