Jesus é o pão da vida: Eucaristia e serviço - Pe. Gilberto Orácio

A A
02/06/2015 - 11:30

O contexto bíblico da instituição da Eucaristia está estreitamente ligado ao serviço. Na sala do cenáculo, devidamente preparada pelos apóstolos, se dá a entrega do corpo e sangue de Jesus pela humanidade (Cf. Lc. 22, 7 – 20; Mt. 26, 17 – 29; Mc. 14, 12 – 25) e o lava-pés (Jo. 13,1 – 11) serviço de Jesus – Deus aos seres humanos que deve se perpetuar conjuntamente com o memorial da ceia. Isto é, não deve haver celebração da ceia sem a harmonia do que se celebra com a relação entre as pessoas (1Cor. 11, 17 – 22.27 – 29).

O serviço realizado pelas pessoas que comungam torna-se mais refinado e aproxima-se mais do serviço de Jesus se cada vez que comungarmos nos darmos conta do compromisso advindo da eucaristia. O que muito se tem observado é que a recepção da eucaristia tornou-se um deleite espiritual e individual e as multiplicações das adorações e “passagens” (desfiles?) com o Santíssimo, sessões de êxtases. Esqueceu-se da raiz da Eucaristia que está na sua origem: comer o corpo do Senhor e beber de seu sangue para servir. Esse é o verdadeiro contexto da ceia do Senhor.

Jesus é o pão da vida, mas ainda não nos demos conta de que esse pão não é só para nos encher o estômago. Ou seja, somente para ser nosso alimento pessoal e egoísta. A Eucaristia que celebramos no século XXI deve estar ancorada naquela ceia da instituição onde foram apresentadas as consequências para quem a celebra (Cf. Jo. 13, 13 – 15). Por isso, celebrar a eucaristia possui implicações sociais no dia a dia. O corpo e o sangue do Senhor por nós recebidos tornam-se o corpo e o sangue de milhares de pessoas sofredoras. Receber a comunhão é estar em comunhão com a humanidade sofredora, excluída, violentada e ignorada.

O serviço proveniente de nossa fé na presença real de Jesus nas espécies do pão e do vinho, deverá nos qualificar para um testemunho mais autêntico de transformação social. Permitir tranquilamente as realidades deformadas pela injustiça e corrupção é não levarmos em consideração o que recebemos em comunhão. Em cada pedaço de pão e em cada cálice de vinho consagrados encontram-se os empobrecidos e degolados da sociedade pela besta fera do sistema que não aceita a proposta de serviço oferecida por Jesus. Está em nossos gestos e palavras a ação necessária para a transformação do mundo, isto é, a transformação do local onde vivemos e atuamos. É o que nos lembra Francisco Taborda (2006, p. 953):

“O futuro da Eucaristia está ligado à opção pelos pobres. O simbolismo da partilha do pão é, por si mesmo, altamente sugestivo em um mundo no qual são muitas as pessoas que não encontram lugar à mesa do banquete destinado a todos. Cristo quis fazer-se presente por meio de um simbolismo vital: a refeição. É impossível participar em verdade do pão eucarístico sem ter engajamento com os pobres que nos cercam. O futuro da Eucaristia depende da coerência com a qual ela se torna verdade em nossa vida quotidiana. E a verdade do simbolismo eucarístico se exprime pela partilha no dia a dia” (Enciclopédia da Eucaristia, Paulus).   

A Eucaristia – Jesus realmente presente nas espécies consagradas – não deve ser recebido desvinculado de uma atitude de serviço àqueles sofredores e sofredoras que muitas das vezes são tratados com indiferença por nós que diariamente comungamos. Os santos e santas que conhecemos nos dão prova dessa compreensão: Santa Bakita, Santa Paulina, Santo Antônio de Santana Galvão, São Benedito, Beato Dom Oscar Romero, Beata Dulce dos Pobres, Santo Antônio de Pádua, Beata Madre Assunta, São Vicente de Paulo, São Francisco de Assis e tantos outros milhares. Receber verdadeiramente a Eucaristia é termos a certeza de que tudo o que fizermos aos menores da sociedade será ao próprio Jesus que estaremos fazendo (Cf. Mt. 25, 40).Nisto está a nossa salvação ou perdição. A sorte está lançada. E a escolha é nossa!

Pe. Gilberto Orácio de Aguiar - Doutor em Antropologia e Mestre em Ciências da Religião