Na fé, nas obras e na memória, os legados de Dom Luciano

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No aniversário de 9 anos da morte de Dom Luciano, dia 27/8, a Região Belém homenageia o bispo que marcou a história, com seu exemplo de fé e dedicação aos pobres e excluídos
Publicado em: 06/09/2015 - 22:45
Créditos: Peterson Prates / OSP

“Dom Luciano é o servo fiel e prudente que Deus nos deu. Ele é para nós um exemplo que nos estimula, um amigo da nossa Região. Vamos ser também exemplo de Dom Luciano para as pessoas, amigo daqueles de quem ele era amigo. Amigo de quem é esquecido, de quem é pobre”, expressou Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, durante homilia da missa em memória dos nove anos de morte de Dom Luciano Mendes de Almeida.

No dia 27 de agosto, os fiéis da Região Belém reunídos com a Pastoral do Menor e outras instituições que atuam em defesa da criança e do adolescente, estiveram no Centro de Educação Infantil Dom Luciano Mendes de Almeida, no bairro Lajeado, na zona leste de São Paulo, para recordarem o bispo, que entre 1976 a 1988 atuou como auxiliar da Arquidiocese de São Paulo na Região.

O local escolhido para se fazer memória é significativo. Em 1980, Dom Luciano convidou as religiosas Terezinha Bosco, Marilda Camargo e Lurdinha Toledo para realizarem uma experiência junto aos pobres da favela do Sinhá. Junto com o bispo, as irmãs do Sinhá, como eram conhecidas, fundaram a comunidade Nossa Senhora da Esperança. O espaço era utilizado para celebrações, atendimento de crianças e jovens, que viviam em situação de vulnerabilidade social, bem como para recreação e aulas de reforço escolar para jovens e adultos. Com muito trabalho e esforço, eles inauguraram o centro comunitário, que viria a ser a primeira creche do bairro.

"O nome do centro comunitário foi escolhido pelo povo que amava Dom Luciano. Ele era como pai, amigo, pastor", recordou Irmã Lurdinha, ao falar da inauguração do centro educaconal em 19 de agosto de 1984, com a presença de Dom Luciano e de toda a comunidade local. Hoje o CEI Dom Luciano atende 247 crianças diariamente.

“O Menor não é problema, e sim solução”

Foi com esta certeza que Dom Luciano fundou, em 1977, a Pastoral do Menor, organismo dedicado ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, e que atua na defesa da dignidade dos menores. A Pastoral foi cresceu e espalhou-se por outras dioceses, ganhando mais força e credibilidade com a Campanha da Fraternidade de 1987, que teve como lema “Quem acolhe o menor, a mim acolhe”. Anos depois, a Pastoral do Menor teve destacada atuação na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em 27 de agosto deste ano, foi instituído o Dia Nacional da Pastoral do Menor, a ser comemorado todo ano nesta data, no aniversário de morte do bispo.

Rumo à Beatificação

Em 2011, quando se completaram os cinco anos da morte de Dom Luciano, seu sucessor na Arquidiocese de Mariana (MG), Dom Geraldo Lyrio, enviou, com o apoio de mais de 300 bispos, o pedido para o início do processo de beatificação. O "Nihil Obstat" (nada consta), documento em que se afirma não haver nenhum impedimento para a realização do processo, foi emitido em 2014 pelo Vaticano. Ao fim desse primeiro processo, Dom Luciano pode ser declarado venerável, aguardando, então, um primeiro milagre sob sua intercessão para ser reconhecido beato, e um segundo milagre para sua canonização, para assim ser chamado santo.

Monsenhor Roberto Natali, vigário judicial, postulador da causa de Dom Luciano, recordou que os trabalhos no tribunal eclesiástico estão adiantados e a fase diocesana deve se estender até 2016."A escuta das pessoas escolhidas como testemunhas já está quase terminando", garantiu o Monsenhor. "É importante que a fama de santidade seja conhecida e divulgada, e faço um convite que orem pela intercessão de Dom Luciano, rezando a oração pela beatificação".

Servo do pobres e pequeninos

Nascido no Rio de Janeiro em 1930, Dom Luciano Mendes de Almeida foi nomeado bispo auxiliar de São Paulo em 1976. Durante 12 anos foi Vigário Episcopal da Região Belém. Em uma época de realidade sofrida das periferias, o bispo percorria todas as comunidades. Os pobres, os marginalizados, as crianças sempre foram para Dom Luciano os mais importantes. Foi secretário geral da CNBB (1979 a 1987), presidente da CNBB (1987 a 1995). Na Cúria Romana, foi membro do Pontifício Conselho de Justiça e Paz (1992 a 2006). Foi ainda vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (1995 a 1998). Em 1988, foi nomeado arcebispo de Mariana (MG) onde permaneceu até a morte, em 2006.

Na fé, nas obras e na memória, os legados de Dom Luciano