O que esperar da viagem do Papa à África?

A A
Pontífice retorna ao continente para visitar Moçambique, Madagascar e Ilhas Maurício
Publicado em: 30/08/2019 - 16:45
Créditos: José Mariano

Três países numa só viagem. O Papa Francisco voltará ao continente africano em sua viagem apostólica a Moçambique, Madagascar e Ilhas Maurício entre 4 e 10 de setembro.

É a quarta vez que ele pisa na África como Papa. A primeira foi em novembro de 2015, quando visitou o Quênia, Uganda e a República Centro-Africana, onde abriu o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. A segunda foi em abril de 2017, quando esteve no Egito. E, em maio deste ano, Francisco foi ao Marrocos – País onde também prevalece a cultura árabe, mas que, como o Egito, fica no norte da África.

Portanto, pode-se dizer que esta será a segunda ida do Papa à África chamada “subsaariana”, a região que está ao sul do deserto do Saara. Mas o que esperar desta viagem apostólica, que é a 31ª do Papa Francisco?

Peregrino da paz

Como sempre, o Papa Francisco viaja como peregrino da paz. Vários povos africanos enfrentam dificuldades, tanto do ponto de vista da pobreza e dos problemas sociais quanto dos conflitos étnicos e políticos.

Moçambique acaba de sair de um longo período de conflitos armados, no qual os rebeldes da milícia (e partido político) chamada Renamo lutavam contra o governo. A disputa pelo poder ainda estava relacionada com a sangrenta guerra civil do País, que terminou em 1994.

Após 16 anos de conflitos e mortes, um acordo de paz foi firmado em 1992, mas os confrontos recomeçaram diversas vezes até 1994; e, mais recentemente, em 2013, entre governo e oposição. Depois de muita negociação, no início de agosto deste ano, foi assinado um novo acordo de paz.

O atual presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, reuniu-se com o líder da Renamo, Ossufo Momade, e, finalmente alcançaram o cessar-fogo. O acordo pediu o desarmamento imediato e a reintegração de mais de 5 mil rebeldes na sociedade – segundo a agência de notícias Associated Press. O País realizará eleições em 15 de outubro deste ano, e Momade afirmou que participará do pleito de forma pacífica. Entretanto, poucos rebeldes realmente entregaram suas armas, o que deixa o acordo enfraquecido.


“Estamos em um momento de trégua”, lembrou o Padre Bernardo Suate, responsável pela seção Portuguesa da Rádio Vaticano/Vatican News, em conversa com jornalistas em Roma. “Esperamos que a chegada do Papa Francisco possa ser uma ocasião para estabelecer no País uma paz efetiva, sólida e duradoura”, disse, conforme relatou à agência italiana SIR, em 14 de junho.

A chegada do Papa ao País, acrescentou, é como “um bálsamo para as nossas feridas”. Moçambique também enfrenta ameaças isoladas e grupos terroristas islâmicos, o que agrava uma situação já delicada. “Em meio a tantos problemas, desafios e guerras, o povo de Deus perseverou na fé. Definimo-nos como uma Igreja das pequenas comunidades, uma Igreja-família”, declarou o Padre.

Novos ares na região

Vale lembrar que Moçambique, assim como Zimbábue e Malawi, acabou de passar pelo duro impacto de um ciclone, o Idai, que atingiu a região em março deste ano. Mais de 1,3 mil pessoas morreram e outras centenas de milhares perderam suas casas.

A visita do Papa, portanto, busca levar conforto a essa região. Em entrevista à revista norte-americana America Magazine, o Padre jesuíta Agbonkhianmeghe Orobator, que é Presidente da Conferência dos Superiores Gerais da África e de Madagascar, explicou que o Papa levará “novos ares” ao continente que tem 54 países e 1,3 bilhão de pessoas, que correspondem a 17% da população mundial.

“Pense no ciclone Idai e suas consequências devastadoras ou nas múltiplas tragédias que o povo Malagasy teve de sofrer recentemente. E as incertezas políticas nas Ilhas Maurício”, afirmou o Padre ao vaticanista irlandês Gerard O’Connell. 

O povo Malagasy é nativo de Madagascar, a quarta maior ilha do mundo. O País vem necessitando de ajuda humanitária frequente por causa da má distribuição de renda e de duras secas.

Cerca de 80% da população de Madagascar, que tem um total de 24 milhões de habitantes, está envolvida na agricultura. Contraditoriamente, quase metade de toda a população do País se encontra em situação de insegurança alimentar, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Esperança entre os líderes

Já as Ilhas Maurício têm 1,3 milhão de habitantes e são muito vulneráveis a eventos climáticos, como ciclones e enchentes. O País conseguiu atingir um nível econômico médio, mas enfrenta, cada vez mais, um aumento da desigualdade social.

Com um sistema parlamentarista de vários partidos, o País tem dificuldades de manter um governo estável. Diferentes coalizões vêm se intercalando no poder, em meio a escândalos financeiros e disputas internas.

De acordo com o Padre Agbonkhianmeghe, o Papa Francisco leva esperança a uma região do mundo onde faltam líderes capazes de entusiasmar o povo. O Sacerdote afirma, na entrevista à revista americana, que “tudo o que vai mal na África pode remeter ao seu déficit de liderança – seja a corrupção, a violência, a pobreza, o desemprego, a migração ou a desfuncionalidade política”.

“Nossos líderes têm muito a aprender do estilo de liderança pastoral do Papa Francisco”, disse à America Magazine. “A África é abençoada com uma abundância de recursos humanos, naturais e materiais. As pessoas são o maior ativo do continente.”

Principais momentos


Conforme a programação da viagem divulgada pelo Vaticano, o Papa partirá para a capital de Moçambique, Maputo, na tarde da quarta-feira, 4 de setembro. Além de se encontrar com autoridades civis e religiosas do País, ele terá um encontro inter-religioso com jovens moçambicanos na quinta-feira, 5 de setembro. Visitará, também, obras sociais e um hospital.

O Pontífice chegará a Antananarivo, capital de Madagascar, na manhã do sábado, 7 de setembro. Novamente vai se reunir com autoridades civis, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas do País. E, de novo, terá um encontro com jovens, sinalizando grande atenção à “Igreja jovem” da região africana e das ilhas vizinhas.

O Santo Padre visitará, ainda, o túmulo da Beata Victoire Rasoamanarivo, uma mulher leiga de Madagascar que dedicou sua vida aos mais necessitados. Também em Antananarivo, o Papa terá um encontro com trabalhadores e visitará uma obra social. A missa na manhã do domingo, 8 de setembro, será no “Campo Diocesano”.

Francisco chegará às Ilhas Maurício na segunda-feira, 9 de setembro, na capital, Port Louis. A visita ali será breve: ele só terá tempo para se encontrar com os bispos e as autoridades civis, mas uma missa pública será celebrada no “Monumento de Maria”. O retorno a Roma é previsto para a terça-feira, dia 10.

Vatican News