Participantes votam nas propostas finais do relatório geral do 1° sínodo arquidiocesano

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Os trabalhos da assembleia sinodal arquidiocesana foram concluídos no sábado, 3, com a realização de sua 7ª e última sessão.
Publicado em: 09/12/2022 - 18:15
Créditos: Redação

Os trabalhos da assembleia sinodal arquidiocesana foram concluídos no sábado, 3, com a realização de sua 7ª e última sessão, no auditório da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), na zona Sul, quando houve a apresentação e votação das propostas finais que irão compor o relatório geral do 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo: caminho de comunhão, conversão e renovação missionária. 

O relatório com as propostas da assembleia sinodal será publicado em 25 de março de 2023, na solene celebração de conclusão do sínodo arquidiocesano, quando o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, apresentará suas indicações para a Arquidiocese a partir do sínodo, que tem natureza consultiva e não deliberativa. 

Na sessão do sábado, foram lidas e apreciadas 118 propostas, 12 a menos que a primeira versão do relatório apresentada em novembro. No conteúdo emerge a preocupação com a formação permanente dos fiéis, com a acolhida aos que procuram a Igreja, o compromisso com a evangelização missionária na cidade e a necessidade de diálogo da Igreja com o poder público, especialmente no que se refere à atenção aos mais vulneráveis da sociedade. 

“As propostas estão bem objetivas. Elas foram trabalhadas, retrabalhadas e revisadas com esse propósito”, comentou o Cônego José Arnaldo Juliano dos Santos, um dos relatores gerais do sínodo, destacando ainda que na sessão anterior foram apresentadas 400 sugestões de emendas ao texto preliminar do relatório geral. 
 

ABRIR-SE À AUTORIDADE DE DEUS 

Como nas demais sessões, a abertura das atividades foi com a celebração da Palavra, desta vez presidida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese. Ele recordou que todos os trabalhos do sínodo foram orientados pelo esforço de ouvir o que o Espírito Santo diz à Igreja em São Paulo, e que houve uma tomada de consciência sobre os novos horizontes e desafios da missão eclesial na cidade. 

Na homilia, aludindo ao Evangelho proclamado (Mt 28,16-20), no qual Jesus fala aos seus discípulos que toda a autoridade lhe foi dada por Deus e que eles devem ir aos povos para batizá-los e ensiná-los na fé, o Bispo enfatizou que a capacidade de determinar as coisas não vem do ser humano, mas, sim, de Deus, cabendo a todos a tarefa de discernir a vontade do Pai e, com liberdade, responder ao chamado e transmitir o que receberam como graça de Deus. “Temos de ter confiança de que não estamos sós, e não nos deixar levar pelas variações do tempo, do momento presente, mas perseverar, para que nossa missão seja verdadeiramente cumprida até o fim”, enfatizou. 
 

A IGREJA É SEMPRE CHAMADA A SE RENOVAR 

Em sua fala inicial, o Cardeal Scherer lembrou que, ao longo do sínodo, a Igreja em São Paulo se pôs a escutar a voz do Espírito Santo, com vistas a uma constante conversão e renovação missionária. Ele enfatizou, também, que a Igreja não é uma estrutura estática, mas que se renova sempre para caminhar com Jesus nas diferentes realidades humanas. 

Dom Odilo comentou ainda a respeito das três dimensões propostas no caminho do sínodo arquidiocesano. Sobre a comunhão, o Arcebispo lembrou que essa é uma realidade própria da Igreja, unida na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, presente nas muitas expressões da vida eclesial. 

Sobre a conversão, o Cardeal lembrou que este é um chamado permanente tanto em âmbito pessoal quanto diante das diferentes realidades, que devem ser confrontadas pelos cristãos à luz do Evangelho, a fim de que possam discernir sobre o que fazer. 

A renovação missionária – apontou o Arcebispo – é a consequência de todo o caminho percorrido. “A Igreja não se renova simplesmente renovando estruturas, pois ela é feita de pessoas. Temos de procurar renovar a vida das pessoas nas comunidades, nas expressões da vida eclesial”, destacou. “A Igreja que não se faz missionária está morrendo e vai morrer”, alertou. 

“Esperamos que aquilo que hoje vamos votar como expressão da assembleia sinodal possa depois levar a muitos frutos, iniciativas para a renovação da missão em nossa Arquidiocese”, desejou.

VOTAÇÃO DAS PROPOSTAS 

Após a leitura das 118 propostas finais da assembleia sinodal, 213 participantes com direito a voto preencheram individualmente uma folha-gabarito, com as seguintes opções para cada item: sim (indicando o pleno aceite de uma proposta), sim com reservas (se o aceite fosse com alguma ressalva) ou não (no caso de discordância da proposta). 

A votação não teve a finalidade de alcançar um acordo majoritário, mas, sim, de verificar o consenso dos membros sinodais sobre cada proposta. Foi ainda lembrada a natureza consultiva do sínodo arquidiocesano, uma vez que, conforme consta no regulamento da assembleia sinodal arquidiocesana, “cabe ao Arcebispo de São Paulo acolher, com liberdade, ‘coram Deo’ (em consciência, diante de Deus), as indicações sinodais formuladas pelos membros da assembleia e emanar as declarações e decretos sinodais”. 
 

PRÓXIMOS PASSOS 

Concluída a assembleia sinodal arquidiocesana, a Comissão de Escrutínios do sínodo iniciará já nesta semana a contagem dos votos dados nas 118 propostas. Depois, se passará ao trabalho da Comissão de Redação, dos relatores e da Comissão de Coordenação geral para a elaboração do texto final das propostas da assembleia sinodal. 

“Esse texto vai ser entregue a Dom Odilo, que fará suas observações, vai se reunir com uma equipe específica que convocar para trabalhar a teologia do texto, que ele mesmo irá redigir a partir das conclusões da assembleia. É o Arcebispo que fará as deliberações documentais do sínodo e o documento final que vai ser apresentado na celebração em 25 de março de 2023”, explicou à reportagem o Padre Tarcísio Mesquita, Secretário-geral do sínodo arquidiocesano. 

“Segue-se, agora, o trabalho ainda de discernir, e eu o farei, pois, como previsto, o bispo convoca o sínodo para ouvir a diocese e depois dá as orientações a partir do sínodo. Eu quero elaborá-las para poder passá-las à Arquidiocese, provavelmente na forma de uma carta pastoral. Portanto, uma coisa são as propostas sinodais aqui feitas, outra é a carta pastoral com as indicações para a Arquidiocese a partir do sínodo”, explicou Dom Odilo Scherer. 

Por fim, o Arcebispo agradeceu a todos que se empenharam para a realização do sínodo arquidiocesano desde que começou a ser pensado, em 2017, passando, nos anos seguintes, pelas etapas nas paróquias, regiões episcopais e vicariatos ambientais. Dom Odilo motivou que se preserve a memória em textos e fotos de todo esse processo realizado, bem como se tenha sempre em conta os dados e reflexões produzidas ao longo do sínodo. 
 

UM CONTÍNUO CAMINHO DE COMUNHÃO, CONVERSÃO E RENOVAÇÃO MISSIONÁRIA 

A conclusão da assembleia sinodal arquidiocesana, no sábado, 3, não representa o fim do caminho proposto pelo 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo, conforme apontou o próprio Cardeal Scherer e alguns dos participantes da assembleia ouvidos pelo O SÃO PAULO. 

“A assembleia sinodal acabou, mas a sinodalidade da Igreja em São Paulo continua. Agora o caminho prossegue com uma ação pastoral mais contundente e a partir dos clamores que surgiram nestes cinco anos de sínodo arquidiocesano, a fim de que façamos realmente um caminho de comunhão, conversão e renovação pastoral missionária”, avaliou o Cônego José Arnaldo Juliano dos Santos, um dos relatores gerais do sínodo. “Estamos em uma cidade cosmopolita, de modo que a urbanidade da evangelização deve ser assumida para respondermos a tudo o que o Magistério da Igreja nos pede”, prosseguiu. 

Para a Irmã Ivonete Kurten, FSP, que integra o grupo de peritos do sínodo, as sessões da assembleia sinodal mostraram que é preciso haver um agir mais incisivo da Igreja, principalmen- te com o testemunho de vida nas comunidades. “Cada comissão que assumir as propostas do sínodo deverá retomar os números da pesquisa de campo, pois nela há alguns indicadores que são importantes. Eu me recordo de um que é sobre a vivência fraterna dentro da Igreja, no qual se indica que nós vivemos juntos, mas não somos fraternos, não somos irmãos. Isso nos chama à questão do testemunho”, observou. 

A religiosa paulina lembrou, ainda, que no relatório geral final da assembleia sinodal emergem preocupações sobre a atenção da Igreja em São Paulo com os jovens, a necessidade de mais formações para a iniciação à vida cristã, a urgência de um processo catecumenal que leve a um maior engajamento pastoral e a necessidade de uma formação de lideranças para atuar em atenção àqueles que ainda não são plenamente acolhidos na comunidade eclesial, como é o caso das pessoas em situação de rua. 
 

MAIOR SENSIBILIDADE PASTORAL 

No entender do Padre Tarcísio Mesquita, Secretário-geral do sínodo arquidiocesano, ao longo das sessões mensais da assembleia sinodal, os participantes adquiriram maior consciência da incidência da Igreja na cidade, com sua gama de atividades e serviços que envolvem os ministros ordenados, os religiosos consagrados e o laicato. 

“Creio que as pessoas que participaram deste processo começaram a compreender que aquilo que elas fazem tem vínculos com outras atividades que, às vezes, podem não estar tão visíveis. Esse senso de que todos temos de nos considerar como irmãos, tenho certeza de que se tornou mais amadurecido aqui neste grupo da assembleia sinodal”, afirmou Padre Tarcísio, que também é Coordenador-Geral do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral. 

Integrante do grupo de peritos do sínodo arquidiocesano, o Cônego Antonio Manzatto avaliou que, apesar da maior conscientização que a caminhada sinodal proporcionou sobre a presença e a incidência da Igreja na metrópole, ainda há muitos espaços missionários a serem desbravados. “Não se pretende, após estes anos de sínodo, chegar à solução de todas as questões, de todos os problemas, mas, sim, indicar uma direção pela qual a Igreja possa se converter, se tornar ambiente de participação missionária. Nesse sentido, acredito que há espaços missionários, clamores do povo que ainda precisam ser ouvidos, espaços em que a estrutura eclesial pode se converter, justamente para se colocar a serviço daqueles ‘presépios contemporâneos’ que estão em todos os cantos da cidade de São Paulo.” 

Ainda de acordo com o Cônego, ao chegar à conclusão da 7ª sessão da assembleia sinodal arquidiocesana, é tempo de se voltar às inquietações iniciais sobre a situação dos cristãos na cidade e a presença da Igreja, para saber se as 118 propostas apresentadas respondem a tais questões. “Lembro, ainda, que no meio deste caminho tivemos uma pandemia, mas estamos conversando sobre estruturas de pastoral como se a pandemia não tivesse acontecido, como se isso não tivesse modificado a situação das pessoas, as formas de relacionamento, ou seja, como se fosse simplesmente um hiato que já passou e que voltaremos ao que era antes. Eu quero crer que mais para frente, consigamos levar em consideração muito daquilo que foi vivenciado em razão da pandemia”, comentou. 

Na fala aberta no plenário da última sessão, o Arcebispo convidou os participantes a expressarem as percepções do percurso realizado ao longo deste ano na assembleia sinodal. Magna da Rocha, assessora da Pastoral Universitária da PUC-SP, foi uma das que falaram, externando um sentimento de muitos outros membros da assembleia: “Sinto que, ainda que tenhamos dado tudo que nos era possível neste caminho, a sensação é como a daquele menino que entrega a Jesus tudo que tinha – os cinco pães e dois peixes [cf. Jo 6,1-15]. Aqui vimos quanta urgência há nesta Arquidiocese, mas somos tão limitados, pequenos. Ficaram essas 118 propostas e depositamos cinco pães e os dois peixinhos com o desejo de que o milagre aconteça”. 
 

LINHA DO TEMPO DA ASSEMBLEIA SINODAL ARQUIDIOCESANA 

10/04
O Cardeal Scherer realiza a convocação dos membros da assembleia sinodal arquidiocesana para as sete sessões, marcadas para o 1º sábado de cada mês, na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom); 

04/05 
Publicação da versão atualizada do Regulamento da assembleia sinodal arquidiocesana; 

07/05 
Celebração de abertura da assembleia sinodal arquidiocesana, presidida pelo Arcebispo Metropolitano na Catedral da Sé; 

04/06 
1ª sessão, com a leitura do Regulamento da assembleia sinodal arquidiocesana e a apresentação do relatório geral sobre o caminho sinodal percorrido até então; 

02/07 
2ª sessão, voltada à tomada de consciência sobre a realidade cultural, social, econômica e política da cidade de São Paulo; 

06/08 
3ª sessão, com a proposta de lançar um olhar conjuntural sobre a Igreja em geral e mais especificamente sobre a Igreja em São Paulo, à luz da Palavra de Deus, do Magistério da Igreja e das circunstâncias atuais; 

03/09 
4ª sessão, com os participantes divididos em 25 comissões temáticas para pensar sobre a questão missionária na Arquidiocese e elaborar propostas evangelizadoras pastorais a partir de todas as reflexões realizadas até então; 

01/10 
5ª sessão, com a apresentação das propostas elaboradas anteriormente e nova reorganização dos participantes nas 25 comissões temáticas para amadurecer e complementar as propostas; 

05/11 
6ª sessão, com a apresentação da 1ª versão do relatório geral final, com 130 propostas, as quais foram votadas pelos participantes, com a possibilidade de sugestões de emendas ao conteúdo de cada uma delas; 

04/12 
7ª sessão, com a apresentação da versão final do relatório geral, contendo 118 propostas, para votação e manifestação de consenso pelos membros da assembleia sinodal.