O Papa: o Concílio nos ensina a estar no mundo como servidores do Reino de Deus

A A
Francisco disse que o Concílio Vaticano II nos ensina “a levar a boa nova do Evangelho para dentro da vida e das línguas dos homens, partilhando as suas alegrias e esperanças"
Publicado em: 13/10/2022 - 15:00
Créditos: Redação

O Papa Francisco presidiu a Santa Missa, na Basílica de São Pedro, na tarde desta terça-feira (11/10), memória do Papa São João XXIII, e 60° aniversário de abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Francisco iniciou sua homilia com a pergunta que Jesus faz a Pedro: “Amas-me?”. Depois da resposta de Pedro, Jesus responde: “apascenta as minhas ovelhas”. “No aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, sentimos dirigidas também a nós, a nós como Igreja, estas palavras do Senhor: Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas”, disse o Papa.

A IGREJA REFLETE SOBRE A SUA PRÓPRIA NATUREZA E MISSÃO

Amas-me? Pergunta Jesus que tem “o estilo não tanto de dar respostas, mas de fazer perguntas, perguntas que provocam a vida”. Pergunta sempre à Igreja, sua esposa:

«Amas-me?» O Concílio Vaticano II foi uma grande resposta a esta pergunta: foi para reavivar o seu amor que a Igreja, pela primeira vez na história, dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão. E descobriu-se mistério de graça gerado pelo amor: descobriu-se povo de Deus, corpo de Cristo, templo vivo do Espírito Santo!

 

UMA IGREJA QUE PERDEU A ALEGRIA, PERDEU O AMOR

Amas-Me? O Papa convidou a redescobrir “o Concílio para devolver a primazia a Deus, ao essencial: a uma Igreja que seja louca de amor pelo seu Senhor e por todos os homens, por Ele amados; a uma Igreja que seja rica de Jesus e pobre de meios; a uma Igreja que seja livre e libertadora. O Concílio indica à Igreja esta rota: como Pedro no Evangelho, fá-la voltar à Galileia, às fontes do primeiro amor, para redescobrir nas suas pobrezas a santidade de Deus”.
 

“Nós também, cada um de nós tem nossa própria Galileia, a Galileia do primeiro amor, e certamente cada um de nós hoje também é convidado a voltar à nossa própria Galileia para ouvir a voz do Senhor: “Segue-me”, e “reencontrar no olhar do Senhor crucificado e ressuscitado a alegria perdida, se concentrar em Jesus. Reencontrar a alegria: uma Igreja que perdeu a alegria, perdeu o amor”, sublinhou Francisco.

“Quando já se aproximava o fim dos seus dias, o Papa João escrevia: «Esta minha vida, que caminha para o ocaso, não poderia ter melhor coroamento do que concentrar-me totalmente em Jesus, filho de Maria, (…) em grande e continuada intimidade com Jesus, contemplado na imagem: menino, crucificado, adorado no Sacramento». Este é o nosso olhar alto, a nossa fonte sempre viva!”
 

VOLTAR ÀS PURAS FONTES DE AMOR DO CONCÍLIO

O Papa convidou a voltar “às puras fontes de amor do Concílio. Reencontremos a paixão do Concílio e renovemos a paixão pelo Concílio! Imersos no mistério da Igreja mãe e esposa, digamos também nós com São João XXIII: «gaudet Mater Ecclesia – alegra-se a Mãe Igreja». Seja a Igreja habitada pela alegria. Se não se alegra, desdiz-se a si mesma, porque esquece o amor que a criou. E todavia quantos de nós não conseguem viver a fé com alegria, sem murmurar nem criticar? Uma Igreja enamorada por Jesus não tem tempo para confrontos, venenos e polêmicas. Deus nos livre de ser críticos e impacientes, duros e irascíveis. Não é só questão de estilo, mas de amor, porque quem ama – como ensina o apóstolo Paulo – faz tudo sem murmurar. Senhor, ensinai-nos o vosso olhar alto, ensinai-nos a olhar a Igreja como a vedes Vós. E quando formos críticos e descontentes, lembrai-nos que ser Igreja é testemunhar a beleza do vosso amor, é viver dando resposta à vossa pergunta: amas-me?”
 

O PASTOR NÃO ESTÁ POR CIMA, MAS NO MEIO

Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas. “Apascenta: com este verbo, Jesus exprime o amor que deseja de Pedro. Pensemos precisamente em Pedro: era um pescador de peixes e Jesus transformara-o em pescador de homens. Agora atribui-lhe um ofício novo: o de pastor, que nunca havia exercido. E é uma viragem, porque, enquanto o pescador agarra para si, atrai a si, o pastor ocupa-se dos outros, apascenta os outros. Mais, o pastor vive com o rebanho, alimenta as ovelhas, afeiçoa-se a elas. O pastor está diante do povo para indicar o caminho, no meio do povo como um deles, e atrás do povo para estar perto daqueles que estão atrasados. Não está por cima, como o pescador, mas no meio.”

Eis o segundo olhar que nos ensina o Concílio: o olhar no meio, estar no mundo com os outros e sem nunca se sentir acima dos outros, como servidores do maior reino que é o Reino de Deus; levar a boa nova do Evangelho para dentro da vida e das línguas dos homens, partilhando as suas alegrias e esperanças. Estar no meio do povo, não por cima do povo: este é o pecado feio do clericalismo que mata as ovelhas, não as guia, não as faz crescer, mata.
 

“O Senhor não nos quer assim: somos as suas ovelhas, o seu rebanho, e só o seremos juntos, unidos. Superemos as polarizações e guardemos a comunhão, tornemo-nos cada vez mais «um só», como Jesus implorou antes de dar a vida por nós. Nisto, nos ajude Maria, Mãe da Igreja. Aumente em nós o anseio pela unidade, o desejo de nos empenharmos pela plena comunhão entre todos os crentes em Cristo. Deixemos de lado os “ismos”: o povo de Deus não gosta dessa polarização. O povo de Deus é o santo povo fiel de Deus: esta é a Igreja. É bom que hoje, como durante o Concílio, estejam conosco representantes doutras Comunidades cristãs. Obrigado pela vossa presença!

Nós Vos damos graças, Senhor, pelo dom do Concílio. Vós que nos amais, livrai-nos da presunção da autossuficiência e do espírito da crítica mundana. Vós, que nos apascentais com ternura, fazei-nos sair dos recintos da autorreferencialidade. Vós que nos quereis rebanho unido, livrai-nos do artifício diabólico das polarizações. E nós, vossa Igreja, com Pedro e como Pedro Vos dizemos: «Senhor, Vós sabeis tudo; bem sabeis que Vos amamos».

Fonte: Vatican News